terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O discurso de Estado, de café e de circunstância

Nos dois primeiros dias do ano, os presidentes dos 3 principais clubes portugueses deram entrevistas de fundo aos jornais. A minha primeira observação vai para os veículos comunicacionais escolhidos e utilizados. Luís Filipe Vieira falou ao jornal “A Bola”; Pinto da Costa ao “Jornal de Notícias”; Godinho Lopes ao “Expresso” e ao “O Jogo”.

Conclusão: Vieira e Pinto da Costa, do alto da sua vasta experiência, utilizaram os melhores meios para chegarem ao seu público-alvo e, por isso, os menos hostis; Godinho Lopes escolheu quem estava disponível, num sinal de que o Sporting, há anos em derrapagem de influência, já não tem referências na comunicação social e, portanto, faz navegação à vista.

Se o embrulho é interessante, mais interessante foi ler o conteúdo das entrevistas. Elas definem um perfil de liderança, uma maneira de estar na vida, no mundo e no desporto, um sentido de responsabilidade, de estratégia e de visão do futuro.

Neste campo, Luís Filipe Vieira deu cartas e transformou a entrevista a “A Bola” na mais profunda, na mais pertinente e naquela com mais motivos de análise e de reflexão. Vieira não falou na espuma dos dias, mas traçou as grandes linhas do futuro do Benfica e levantou a ponta do véu sobre o que o futebol português vai ter de se confrontar.
Mostrou-se um líder preparado, conhecedor dos dossiês, com ideias precisas e consistentes sobre o que quer para o Benfica do futuro e de que maneira vai ter de acautelar os interesses do clube face à crise que está bem presente no quotidiano de todos.

Falou para fora, para todos os que têm responsabilidades mas também para o adepto comum. Deixou avisos, conselhos, sinais, mas também deixou esperança nos benfiquistas. Foi um discurso de Estado.

Pinto da Costa optou por uma via diferente. Falou para dentro, falou de coisas miudinhas e brejeiras, respondeu com ironia a perguntas pertinentes, recusando sempre ir ao fundo das questões. Ficou-se pela rama das coisas, pelo acessório e pelo trivial. Se dúvidas houvessem porque é que o FC Porto não passa de clube regional, quando tinha tudo para ser hoje um clube nacional, elas ficavam dissipadas com estes discurso de Pinto da Costa, e foi sempre isso que acantonou o FC Porto. Foi um discurso de café.

Godinho Lopes optou por pôr o Sporting à venda. Da sua entrevista fica a ideia de um homem que está ali a servir de interposto comercial. Quando Vieira diz que o Benfica é dos sócios, Godinho Lopes diz que o Sporting é de quem der mais. Foi um discurso de circunstância. E isso faz toda a diferença.

1 comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...