quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A memória não se apaga

Os últimos tempos têm sido amargos e doces. Amargos porque em poucas semanas, talvez os dois maiores símbolos do Benfica - Eusébio e Coluna - se juntaram no Olimpo, onde só os deuses podem conviver entre si. Doces porque a equipa de futebol profissional ( e muitas modalidades) tem dado provas de que está preparada para nos dar grandes alegrias no final da época. 
É, por isso, com um sentimento misto de alegria e tristeza que escrevo este texto. Tinha-o preparado na minha cabeça para falar sobre a nossa liderança confortável na liga de futebol e para falar sobre a nossa muito provável passagem aos oitavos de final da Liga Europa. 
E, pelo meio, não ia esquecer as brilhantes prestações que as nossas equipas das modalidades têm apresentado nesta época, do voleibol ao basquetebol, mesmo o andebol e o hóquei (não fora aquela vergonhosa arbitragem em Valongo e éramos líderes).
Acresce que, na formação, as nossas selecções nacionais têm contado com fornadas cada vez mais alargadas de jovens jogadores benfiquistas formados no Centro de Estágio do Seixal. Tinha pensado tudo isto e, de repente, ficamos sem o nosso Monstro Sagrado, o nosso Mário Coluna.
Ficamos sem ele fisicamente, por ele nunca se apagará da nossa memória. E é mesmo disso que quero agora falar: da nossa memória. Hoje é fácil falar da nossa memória gloriosa, dos nossos maiores, daqueles que foram e são imortais.
Mas, eu lembro-me bem, há 20 e mais anos Eusébio estava por favor no Benfica, Coluna nem se sabia bem por onde andava, José Augusto parecia ter desaparecido, Simões andava pelos Estados Unidos e fora da nossa órbita, Jaime Graça, já poucos sabiam o nome, etc., etc., etc.
Esta é que é a verdade pura e dura. Dói? Dói muito dizer e escrever isto, mas a realidade era esta. E, como em tudo na vida, o exemplo vem de cima. Tivemos grandes presidentes e grandes dirigentes, mas nem todos souberam honrar a nossa História, aquilo que nos fez grandes e que nos continua a fazer grandes.
Luís Filipe Vieira recuperou financeiramente o Benfica, credibilizou o Benfica, fez uma obra notável ao nível das infraestruturas e na recuperação da nossa pujança desportiva e eclética, mas, para mim, uma das suas mais brilhantes e estratégicas decisões foi o de apoiar, ajudar e dar o devido reconhecimento público às antigas glórias do Benfica.
Talvez nem mesmo ele, o Presidente do Benfica, tenha a noção da vital e estrutural importância dessa sua decisão. Com Vieira, Eusébio e Coluna passaram a ter o lugar único que sempre mereceram ocupar. Com Vieira, Simões e José Augusto são figuras visíveis na vida actual do Benfica e na sua representação externa. Com Vieira, Jaime Graça passou os seus últimos anos de vida com grande dignidade. E podia ir por aí fora.
Hoje, é com muita emoção que quando a televisão foca a tribunal presidencial do Estádio da Luz, ali se podem ver muitas antigas glórias do Benfica. Preservar a memória daqueles que nos fizeram grandes é um sinal de carácter. Cuidar e proteger a dignidade de muitas antigas glórias felizmente vivas, é um acto de nobreza. Luís Filipe Vieira tem esse perfil.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O que quis dizer Vieira

Há uns anos atrás, Luís Filipe Vieira proferiu uma frase que ainda hoje faz correr alguma tinta. A frase é um dos tiros mais certeiros do futebol português, mas como em Portugal estamos habituados a nunca ver o essencial e a olhar o acessório, a declaração de Vieira foi adulterada, tirada do contexto, usada para os mais variados fins.
Passados estes anos, é cada vez mais claro que o Presidente do Benfica tinha razão na altura e tudo o que se passou desde então veio reforçar essa razão. Então o que disse Vieira? Cito de memória: é mais importante estar nos lugares certos do futebol português do que ter bons jogadores.
Quase que caía o Carmo e a Trindade. Mas, poucos perceberam a ironia das palavras de Luís Filipe Vieira. O líder da Luz, pouco dado a ambiguidades e jogos de palavras, não contou com as adulterações e mentiras que foram ditas sobre esta frase. 
Na verdade, na esmagadora maioria dos últimos 30 anos, para quem dominou o futebol português foi mais importante ter as pessoas certas nos órgãos desportivos do que bons jogadores. Lembrei-me disso ontem à noite quando ouvia Bruno de Carvalho a esbracejar no programa "O Dia Seguinte", da SIC Notícias, contra a chico-espertice do atraso do FCPorto contra o Marítimo para a Taça da Liga.
Bem pode Bruno de Carvalho gritar a plenos pulmões a sua razão, que a tem, porque enquanto o FCPorto ainda tiver os seus homens em lugares-chave será sempre muito difícil fazer cumprir regulamentos e fazer vingar a verdade desportiva.
Conclusão: o que Vieira disse fazia todo o sentido e o "sistema" percebeu bem a mensagem. Por isso é que os porta-vozes desse sistema vieram logo a terreiro tentar distorcer as palavras do Presidente do Benfica. Bruno de Carvalho chegou há pouco tempo mas já está a sentir na pele porque é que para o FCPorto sempre foi mais importante ter os homens certos nos lugares certos do que investir em jogadores. Vieira percebeu-o primeiro que todos...

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

A liderança e o mercado

Enquanto Bruno de Carvalho tapa a cara com as mãos, numa daquelas imagens que valem mais que mil palavras e não escondem o desespero (pois, o banco - de suplentes - pode ser um purgatório a caminho do inferno), Pinto da Costa parece apostado em destruir em pouco tempo a aura de infalibilidade que conseguiu ganhar em mais de 30 anos de consulado.
O presidente do sporting arrisca cair num poço sem fundo, agora que o estado de graça parece estar a esvaziar. O golpe fatal numa política de formação com tradições em Alvalade foi dado neste mercado de Inverno, numa altura em que as pressões para lutar pelo título começaram a chegar em dose cavalar.
Leonardo Jardim não deve ter gostado da chegada de estrangeiros com escola feita e feitio variável, e a resposta do treinador do sporting ao seu presidente foi dada no escalonamento da equipa contra a Académica.
Em vez de Capel e/ou Carrillo, Jardim lançou Carlos Mané, como que a dizer que o egípcio será 3ª ou 4ª opção. Já se percebiam algumas divergências de discurso entre Jardim e Bruno, mas a tragicomédia de Alvalade não prenuncia nada de bom.
Mais a norte, Pinto da Costa reuniu uma noite inteira com empresários de jogadores importantes, como Fernando e Otamendi. O fumo que saiu foi muito negro. E continuou a ser negro no fim de semana, com uma viagem à Madeira, tudo menos paradisíaca.
O papa já não é o que era e Fernando, um antigo na casa, já o percebeu há muito. Ao recusar-se a renovar e ao assinar nas costa de PC com o Manchester City, Fernando pode ter sido o primeiro a dar um grito do Ipiranga. Ou muito me engano ou outros se seguirão.
Na Luz, longe dos holofotes e das páginas dos jornais, Luís Filipe Vieira burilou os melhores negócios do mercado de Inverno. A genialidade negocial que demonstrou permitiu-lhe juntar o útil ao agradável. Um encaixe de 70 milhões de euros, sem descurar o desempenho desportivo.
A equipa vai à frente isolada. Ao contrário dos adversários mais directos, as movimentações de mercado não afectaram a tranquilidade dos jogadores, nem a estabilidade interna. Dizem que isto tem tudo a ver com liderança. E não é que tem?
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