terça-feira, 3 de abril de 2012

Do fundamentalismo



Portugal é um país estranho. Belo, sem grande conflitualidade social, de clima ameno. Um grande país para se viver. O problema, já dizia o outro, são as pessoas. Não que os portugueses sejam cidadãos de segunda, mas porque a nossa congénita inveja (ai os Lusíadas) faz de nós um povo assaltado por sentimentos mesquinhos.
Gostamos da intriga, da hipocrisia, de morder pela calada. Temos receio de dar a cara, de emitir opiniões, preferimos a ambiguidade. Convivemos mal com a frontalidade e a transparência, preferimos a dissimulação e a palmadinha nas costas.
Indignamo-nos com pouco e encolhemos os ombros face às maiores aleivosias. Há dias, devíamos todos ter corado de vergonha pelos ataques soezes que sofreu uma professora da Ericeira que brincou com os seus alunos, juntando a uma cançoneta infantil a expressão "Viva o Benfica". A escola foi apelidada de madrassa pelo erudito site do fc porto e a professora catalogada de taliban.
Há dias, um conhecido comentador desportivo, João Gobern, foi "apanhado" a festejar o 2º golo do Benfica durante o programa em que participa na RTP com Bruno Prata, enquanto este usava da palavra. Daí até aos insultos na blogosfera e no facebook foi um ápice.
Vivemos tempos conturbados, mas é por isso que pessoas como Joel Neto, um sportinguista que ironizou com brilhantismo sobre a "madrassa" da Ericeira escrevendo n´O Jogo que também educadoras do Sporting e do FC Porto podiam e deviam adicionar slognas clubísticos a outras cantigas, e como João Gobern, um benfiquista que não conheço pessoalmente mas ouço com regularidade no, provavelmente, melhor programa da rádio em Portugal, o Hotel Babilónia, me fazem continuar a ter esperança na natureza humana.
E claro, um grande bem-haja para a professora da Ericeira, cujo suposto "fundamentalismo" não meteu medo às suas crianças. Medo tenho eu dos fundamentalistas e talibans sem rosto, sem nome e sem opinião.

5 comentários:

  1. Meu caro, o teu últimom parágrafo diz tudo e nele me revejo.

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  2. Pois para mim foi com bastante alegria, felicidade, orgulho e outros adjetivos mais, que vi o João Gobern festejar o golo e li a história da professora da Ericeira.
    Por isto tudo, " VIVA O BENFICA"

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  3. Também me revejo no último parágrafo.
    Eu que já vivi muitos anos. Sou do tempo em que o "Botas" caíu da cadeira no Forte de S.Julião, estas episódios fazem-me lembrar coisas desse tempo.
    Saudações Benfiquistas.

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  4. Isto é simples. O Zona Mista era o único programa sobre futebol que eu seguia. Agora já não sigo. Esse é o nosso único poder.

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  5. Este Govern tem o direito de ter o clube que entender, mas não tem o direito de ofender a inteligencia dos outros, como já aconteceu nalgumas das suas "escritas" no Record.É que ter o respeito pela ética, deontologia da profissão e sobretudo pelas pessoas, como tinham Artur Agostinho e Carlos Pinhão, sei bem, que não é para todos.É preciso ter-se uma formação intelectual a toda a prova.
    Este tipo não a tinha.Provou-o mais do que uma vez.Era capaz de ofender quem ele queria, mencionando os seus nomes.O fanatismo e o fundamentalismo existe e é bastante forte na chamada classe jornalistica e o seu sindicato não diz nada.Se fosse noutro país estes gajos seriam chamados à ordem.Conheço exemplos.Nesta classe como noutras, defende-se o corporativismo, que não tem nada a ver com a liberdade de expressão.São tiques do nacional-salazarismo.

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