terça-feira, 11 de setembro de 2007

A "crise de identidade" da Selecção

Foto: jpn.icicom.up.pt/images/desporto/euro2008.jpg

Começo por dizer que admiro Scolari, o seu poder de comunicação, o seu jeito nervoso de viver o jogo. Gosto de Felipão. Mas o frustrante empate de sábado à noite na Luz (2-2) frente à Polónia, mais do que deixar a Selecção no fio da navalha do apuramento para o Euro 2008, revela um problema mais profundo e mais estrutural.
Principal problema – falta identidade à nossa Selecção. O “caso” Pepe, após o “caso” Deco, é a face visível dessa falta de identidade. Na Luz, sábado à noite, a Selecção não conseguiu levar mais de 50 mil ao estádio, num jogo decisivo do apuramento, contra a primeira classificada do grupo. Porquê? Porque hoje, na Federação, a estratégia em vigor é a do oportunismo, do facilitismo, do deixar andar a ver se pega. Não há uma linha de rumo, e se às vezes a sorte sorri, como no Mundial da Alemanha, a mais das vezes vem ao de cima a regra de ouro do improviso e do acaso.
A naturalização de Pepe, um vulgar jogador brasileiro, assim como já tinha sido a de Deco, hoje um jogador mediano, sem lugar no Barcelona, e a anos-luz da qualidade e da consistência de um, por exemplo, João Moutinho, reflecte essa crise de identidade, que se sente.
Portugal não precisa de jogadores brasileiros naturalizados portugueses para jogarem na Selecção. O oportunismo de ambas as partes é lamentável e chocante. Nem Deco, nem agora Pepe, alguma vez teriam lugar no escrete canarinho. Do lado da Federação, foi fácil convencer a opinião pública portuguesa da necessidade da naturalização de Deco, quando este exibia uma forma transcendente e o Mundial estava à porta. Como agora é fácil defender a naturalização de Pepe e a sua chamada à Selecção, quando o jogador pertence aos quadros do Real Madrid, e quando Portugal se debate com naturais lacunas no centro da defesa.
Difícil era apostar na formação, o que devia ser a mensagem a passar pelo Presidente da Federação tanto para o interior do organismo máximo do futebol português, como para o interior dos clubes. Mas rende menos dividendos a curto prazo não é verdade Dr. Gilberto Madaíl?
E agora, quando Portugal aparece frente à Polónia, em casa, a necessitar de vencer, sem um genuíno ponta-de-lança português, vai acelerar-se o processo de naturalização de Liedson?
E não vale a pena puxar do argumento de que em outras modalidades acontece o mesmo. Por um lado, o campo de recrutamento é bastante menor, por outro, uma asneira não justifica outra asneira.
Por último, também é revelador de ignorância e má-fé lembrar o caso da Selecção francesa. Que eu saiba, nenhum jogador se naturalizou francês com o único objectivo de jogar na Selecção da França. Pensar o contrário é não saber que a França é, provavelmente, o país onde mais de aposta e investe na formação. Agora só se espera que amanhã contra a Sérvia, a Selecção possa ultrapassar momentaneamente esta crise de identidade.

Obs: Não posso deixar de estar mais de acordo com Rui Santos, que, domingo à noite na SIC Notícias, no seu “Tempo Extra”, foi justamente crítico da actuação da Federação Portuguesa de Futebol e do seu líder, Gilberto Madaíl.

2 comentários:

  1. Caro colega

    Deco é um vulgar jogador que já ganhou 2 Ligas dos Campeões, que jogou 3 épocas de grande fulgor no Barcelona sendo um jogador fundamental nos vários títulos que o clube espanhol conquistou nas últimas 3 épocas...agora, é certo, está numa fase descendente e de menor rendimento mas...qual é o jogador no Mundo que mantém um rendimento uniforme ao longo de toda a sua carreira, estando sempre em excelente forma?!?!Provavelmente se esse jogador existe deve ser do Benfica, de certezinha absoluta!!
    O que me pareece pelas suas palavras é que você ainda não engoliu o facto de Deco ter sido escorraçado do Benfica e ter tido muito sucesso em todos os outros clubes por onde passou...mas deixe lá...uma pomada para as dores de cotovelo pode fazê-lo ultrapassar esta situação...

    Cumprimentos

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  2. Desacordo parcial!
    Quanto às naturalizações, em particular no futebol, estou de acordo consigo. Penso que não há necessidade de introduzir jogadores nauralizados "à pressão" para jogarem pela selecção. Penso também que com o Ricardo Carvalho, Fernando Meira, Jorge Andrade, Manuel da Costa, Ricardo Rocha, Tonel, etc... não há necessidade de convocar o Pepe. Alias penso que dificilmente terá lugar nos convocados da selecção. Em relação ao Deco, o caso é outro. Não estando muito a favor de naturalizados na selecção, o Deco acrescenta qualidade, e muita, à selecção. Quanto ao seu comentário em relação à selecção de frança estou completamente de acordo!

    Parabens pelo Blog.
    Cumprimentos,

    Bruno Ferreira

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