quarta-feira, 29 de outubro de 2008

O "homem-sombra"


O golo ao Anderlecht, na Luz, na final da Taça UEFA de 1982/83

O mundo do futebol vive de protagonistas e de protagonismos. A pressão mediática diária sobre os grandes clubes de futebol português – Benfica, Sporting e FC Porto – transforma o mais irrelevante funcionário numa estrela, ultrapassando mesmo os 15 minutos de fama a que todos temos direito.
Por isso, fugir a esses holofotes é mais do que uma arte, é uma filosofia de vida que merece ser realçada e sublinhada, não só pela invulgaridade mas pelo facto de que esse apagamento não quer dizer menor competência, nem menor eficácia, nem menor importância. Pelo contrário, significa focagem no que é primordial, o trabalho, a concentração, a organização, a dedicação, o profissionalismo, em prol de um clube.
Não posso deixar de dizer que estes considerandos vêm a propósito da actual situação de doença de Reinaldo Teles, a quem desejamos as rápidas melhoras. Reinaldo Teles é uma, a meu ver negativa, “imagem de marca” do FC Porto. Foi, contudo, um precioso “homem-sombra”, para o bem e para o mal, bastantes mais vezes para o mal.
Este pretexto serve-me para homenagear um homem, também ele “homem-sombra”, do Sport Lisboa e Benfica. Também ele com as mesmas funções de Reinaldo Teles no FC Porto, embora um mar de diferenças de formação e de idoneidade os separem.
Estou a falar de Shéu Han. E, curiosamente, vejo nestes dois homens, com o seu percurso de vida, a matriz fundamental do que diferencia o Benfica do FC Porto - a superioridade moral do Sport Lisboa e Benfica.
Shéu, a quem nos seus tempos de jogador apelidavam de “pézinhos de lã”, é o nosso “homem-sombra”. Mesmo nos tempos em que brilhava nos relvados nacionais e internacionais, ocupando o seu lugar de titular em meio-campos fabulosos, que tinham Toni e Vítor Martins, Alves e Stromberg, Carlos Manuel e Thern, Jaime Graça e Valdo, Diamantino e Chalana e tantas outras glórias, Shéu foi sempre avesso a dar nas vistas, a dar entrevistas, a sentir-se protagonista. Vivia para servir o Benfica. Era assim, é assim. Não sei se isso se deve às suas origens orientais.
O que sei é que Shéu Han é, para mim, o porta-estandarte da mística. Enquanto ele “habitar” a Luz, onde mora há mais de 30 anos, estarei confortado e seguro de que a mística nunca será uma palavra vã.
Natural de Inhassoro (Moçambique), Shéu chegou ao Benfica em 1972, com 19 anos – tem 55 e ainda lá está – e tomou o seu lugar ao lado de três gigantes: Jaime Graça, Vítor Martins e Toni. Fez a sua última época de jogador em 1988/89, 17 anos depois, com 36 anos – ganhou 9 campeonatos, 6 taças de Portugal, 2 supertaças, jogou 2 finais da Taça dos Campeões Europeus e uma final da Taça UEFA. Foi treinador, treinador-adjunto, secretário-técnico, cargo que ocupa neste momento.
Seria fastidioso enumerar tudo aquilo que Shéu foi, que Shéu é. Mas há dois momentos que não posso deixar de relatar aqui, não porque são invulgares, não porque são os mais marcantes, mas porque no meu baú de memórias são aqueles que quero guardar sobre o Shéu.
O primeiro é de 83, final da Taça UEFA (2ª mão), contra o Anderlecht. Eu estava lá, na velhinha Catedral, cheia como um ovo. Tinhamos perdido ingloriamente por 1-0 em Bruxelas, depois de Diamantino ter falhado um golo certo. Na Luz, fizemos 1-0 por Shéu, depois de um canto e após um amortecimento de Humberto com o peito. E a Luz veio abaixo. Um verdadeiro Inferno.
O segundo foi bem mais recente. Há poucos meses, durante o Benfica – FC Porto, alguns tumultos nas bancadas paralizaram o jogo. Surpreso, quem vi levantar-se do banco e dirigir-se junto às claques do Benfica apelar à calma? Shéu. E tudo serenou.

10 comentários:

  1. É com ele, com Diamantino, com Rui Costa, com Chalana, com Jo ão Alves, com Rui Águas, com Carlos Lisboa, com Ramalhete, com Henrique Vieira, com André Lima, etc... que o futuro do Benfica será feito.

    S ão pessoas que conhecem o clube e que amam o clube.

    Mas acima de tudo o que é necessário é que eles sintam que estão no clube com uma função importante e não só como figuras decorativas, como
    j á aconteceu no passado. É necessário que eles sejam além do porta-estandarte do clube, figuras importantes da gestão do clube e das suas secções.

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  2. dps de voltar a ver um video da despedida do rui costa no geraçaobenfica, venho ao inferno da luz e leio este post. nc vi o sheu a jogar, mas atendendo a sua postura e vendo o rui costa so posso concluir q pessoas destas so podem vir do glorioso.
    Salvo as devidas diferenças, estes sao 2 Senhores de classe. e para nosso bem, são Benfiquistas

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  3. nao tem nada a ver um com o outro e n desempenham as mesmas funçoes reinaldo teles sempre foi o homem dos serviços sujos e da noite

    nem sei pq que falam nele para homenagear o sheu enfim
    ja mete nojo em blogs do benfica ver constantemente o nome fcp**** ou coisas associadas enfim deixem o papel de atrasadinhos para eles que sempre o foram nao queiram tomar o lugar dos porcos
    norte vermelho

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  4. Viva.
    Uma boa e merecida dedicatória a uma das glórias do Glorioso, que mtas vezes por ser "o homem sombra" passa quase despercebido.

    Bem hajas Sheu Han.

    PS: Blog linkado

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  5. Um flash do diabo
    «"Foi um flash que me passou", diz o agressor em julgamento
    Frente a frente em tribunal, o adepto 'encarnado' e o árbitro auxiliar do jogo Benfica-FC Porto explicaram o "cachaço" de há dois meses, na Luz. Árbitro está a ser seguido por psicóloga.

    Carlos Santos, totalmente careca e com uma comprida barba branca ponteaguda, não sabe o que lhe passou pela cabeça quando mascarado de Diabo decidiu invadir o relvado do estádio da Luz e agredir pelas costas o fiscal de linha José Ramalho, com um 'apertão' na zona da nuca.

    O insólito episódio ocorreu durante a 1ª parte do jogo Benfica-FC Porto, da 2ª jornada do campeonato da I Liga de futebol, disputado a 30 de Agosto, foi registado pelas câmaras televisivas, mas não obrigou sequer à interrupção do dérbi que terminou empatado a 1-1.

    Ao Expresso, Carlos Santos garantiu que está "arrependido e envergonhado" do que fez. Contou ao Tribunal de Pequena Instância Criminal de Lisboa que não tinha gostado que o árbitro não tivesse assinalado alguns fora-de-jogo do ataque portista e quis chamar-lhe a atenção para esse facto.

    Não pretendeu magoar José Ramalho, mas tão só dar-lhe um toque: "Foi um flash que me passou", disse o agressor em julgamento. Recorda que estava na bancada central, muito próximo da vedação que separa o público do recinto do jogo, e que se limitou a sair por uma porta que estava aberta. Sem segurança nenhuma, como fez questão em repetir várias vezes.

    O árbitro auxiliar, sem ter a menor ideia do que se passava nas suas costas, foi surpreendido com uma pancada forte na nuca. Um "cachaço", como especificou aos presentes. Desequilibrou-se, andou uns metros para a frente, mas não chegou a cair.

    De pronto alertou, pelo intercomunicador, o árbitro principal para a agressão sofrida, mas o internacional Jorge Sousa pediu-lhe que aguentasse até ao intervalo. Atitude justificada pelo facto de em jogos com aquele nível de tensão qualquer interrupção poder criar reacções mais agressivas da parte do público.

    A determinada altura do julgamento de hoje, a tentativa de esclarecimento da intensidade da agressão sofrida por José Ramalho originou uma discussão semântica em redor das expressões "calduço e cachaço" utilizados por alguns depoentes. Uma dúvida que levou o juiz a questionar por diversas vezes: "Mas foi um calduço ou um cachaço?"

    Afastado da arbitragem, José Ramalho, árbitro há 15 anos, ficou atónito e perplexo com o que se tinha passado e questionou-se como tal tinha sido possível num jogo com tamanho grau de segurança. Na segunda-feira a seguir foi analisado no Instituto de Medicina Legal, onde lhe diagnosticaram um traumatismo cervical. Ficou sem trabalhar cinco dias.

    Mas o pior não foi isso. Em casa, o seu filho de cinco anos tinha visto tudo na televisão. A mulher de José Ramalho contou que este desatou a chorar a e gritar a perguntar por que razão ninguém ajudava o pai. Na rua, nos dias seguintes e, como contou ao tribunal, até hoje, passou a ser gozado e ameaçado de levar mais "calduços".

    Gozado e ameaçado na rua
    Sem conseguir aguentar a pressão, Ramalho tornou-se mais irritadiço, à noite tinha pesadelos e deixou mesmo de arbitrar jogos em Portugal. Está a ser seguido por uma psicóloga.

    Ao invés, Carlos Santos continua a não perder nenhum jogo do Benfica. Ainda na quinta-feira passada esteve na Luz. Os amigos garantiram em tribunal que é um homem pacífico, que já correu a Europa atrás da equipa 'encarnada', e não conseguem encontrar explicação para o sucedido. Segundo as suas testemunhas de defesa, a mulher e filhas ficaram duas semanas sem lhe falar depois do ocorrido.

    O 'diabo de Gaia' - nome por que ficou conhecido porque, além da barbicha, vestia, nesse jogo, um 'corta vento' vermelho e tapava a careca com um gorro com corninhos, da mesma cor - é acusado de invasão de recinto desportivo e ofensa à integridade física.

    A sentença será proferida na quinta-feira.»
    In Expresso.pt

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  6. Estive nesse jogo, era ainda um puto. casa cheia e muita esperanç, principalmente após o golo de Shéu. Só que nessa altura os belgas também tinham uma grande equipa e Lozano, estragou-nos o sonho.
    Shéu, o homem dos 3 dedos, sempre foi um senhor dentro do campo, lutador, tecnicista qb e uma postura exemplar, a qual continua após a saída dos relvados, discreto, mas competente.

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  7. O golo de SHÉU, acontece nao depois de um toque de cabeça de Humberto. Acontece depois de Humberto amortecer a bola com o PEITO.

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  8. Caro Benfiquista

    Um grande post, os meus parabéns, desculpa lá mas citei-te mais uma vez....

    Saudações Gloriosas
    CDAG

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  9. É verdade Lúcifer, tens toda a razão, foi um "passe" do Humberto com o peito. um abraço e obrigado!

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  10. Felizmente já tive oportunidade de estar/conviver com o Shéu nas deslocações do SLB aos Açores e uma vez em Espanha(Xerez de la Frontera) numa pré-época de Camacho e é sem dúvida uma grande senhor.

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