Há os heróis-heróis e os heróis-mártires. Pedro Mantorras, cuja carreira terminou ontem pela voz do Presidente do Benfica, foi um herói-mártir, e talvez que essa seja a característica principal porque o angolano continuará a ser um ícone, um mito, para os benfiquistas.
Não me lembro, aliás, de uma tão dramática carreira no futebol mundial. Estava certo Luís Filipe Vieira quando, numa célebre entrevista televisiva, há cerca de 10 anos, mais coisa menos coisa, prognosticava que Pedro Mantorras seria mais tarde ou mais cedo um jogador de dimensão mundial, para valer qualquer coisa como 18 milhões de contas - 90 milhões de euros.
É curioso verificar agora que esta verba astronómica foi a que, no ano transacto, o Real Madrid deu por Cristiano Ronaldo, para o resgatar ao Manchester United. Vieira, tão criticado na altura, estava certo. O líder encarnado, que muitos gostam de dizer que "não percebe de futebol", foi certeiro na avaliação do valor futebolístico de Pedro Mantorras, então a dar os primeiros passos ao mais alto nível.
Mas Pedro Mantorras foi, também, o paradigma do que é o nosso país - e foi com isso que Vieira não contou. O futebolista angolano foi vítima do pior que há em Portugal: foi vítima de um "sistema" bem português que tenta, e muitas vezes consegue, destruir tudo aquilo que mostre qualidade acima da média, seja no futebol, seja em qualquer outra actividade.
Para além disso, Mantorras foi vítima da incúria, da incompetência, do desleixo, da inveja, da intriga, de uma certa maneira de "ser português", que é incapaz de suportar o sucesso dos outros. Aliás, para quem acredita nesta coisa do destino, parece que, "estava escrito nas estrelas" que Pedro Mantorras iria passar por um calvário.
Lembro-me bem, até porque estava lá, vi "in loco", a caça ao homem que foi protagonizada no Varzim - Benfica, 1ª jornada de 2000 - 2001, sobre Pedro Mantorras, na sua primeira aparição com a camisola do Benfica.
Eu vi a cumplicidade, a complacência de um árbitro chamado Isidoro Rodrigues, que deixou passar em claro todas as agressões, empurrões, agarrões, durante 90 minutos - devo dizer que, em quase quarenta anos a ver futebol ao vivo, nunca tinha visto coisa igual.
Seria essa a sina de Mantorras, como foi a de Eusébio, ser travado, golpeado, agredido pelos medíocres. Seria, se não se desse o caso de Pedro Mantorras ter sido traído por aqueles que deviam cuidar dele em primeira instância.
Isidoro Rodrigues foi, apenas, um pequeno símbolo da nossa pequenez e da nossa mediocridade. Pedro Mantorras será sempre um símbolo grande da nossa gloriosa Hstória, de país pequeno mas com um clube maior do que os maiores do Mundo.
E Pedro Mantorras é também um símbolo do Benfica que é farol da Lusofonia, com Eusébio e Coluna, Cavém e Águas, Costa Pereira e Santana. E Mantorras...
Uma excelente "ode" de Pedro para o outro Pedro... o MANTORRAS!
ResponderEliminarParabéns Pedro.
Obrigado Mantorras!