segunda-feira, 23 de abril de 2007

Dois Países a teu lado, e o Mundo

Há muito de mortal na genialidade. Esses deuses, imans planetários, são, no entanto, de carne e osso, de vícios e devaneios, de pecados ocultos pela sua enorme aura de mitos sagrados.
Na música, na ciência, no desporto. Elevam-se até à imortalidade. Elevam-nos aos céus da euforia, do espanto, do reconhecimento, da admiração. Homens como nós. Desafiadores da gravidade, da normalidade. Inacessíveis e, agora, tão dependentes, tão mortais.
No génio da bola descobrimos três: lendas, mitos, “monstros”. Alfredo Di Stéfano, Diego Armando Maradona, Eusébio. Buscaram e atingiram a perfeição. E, no entanto, as maleitas terrenas não os deixaram passar incólumes. Até nisso são iguais, sublimes.
Iguais a nós na doença, inimitáveis na arte, a sua arte.
Há alguns meses atrás, a “Saeta Rubia”, o anjo branco, saía em cadeira de rodas de um hospital de Madrid. O divino calvo, Dom Alfredo, glória madridista, caiu, como todos nós, numa cadeira de rodas, símbolo irónico para quem passeou altivo nos relvados do mundo uma classe única.
Na “mão de Deus” está, agora, outro astro argentino. El Pibe esgotou todas as fichas na roleta da vida. Em Nápoles, no San Paolo, ou em Buenos Aires, na “La Bombonera”, reza-se uma missa pagã, em nome de um Dios, uma Evita de camisola celeste listada com um “Diez” nas costas. “Don´t cry for me Argentina”.
No Hospital da Luz, impagável analogia, ele que nunca virou as costas à Luz, D. Flora espera, como há 40 anos, quando junto à cama acompanhava o restabelecimento do “Pantera Negra” após mais uma operação aos joelhos.
D. Flora, flor de Mafalala, espera e com ela dois países e o Mundo. Eusébio não está de pé, imperial, a destroçar a Coreia, o Brasil, o Santos, o Real Madrid ou o Barcelona. Está deitado, como há 40 anos. Como Maradona não está de pé a arrasar a Inglaterra e a vingar as Maldivas. Também não estão sentados como D. Alfredo, empurrado numa cadeira de rodas, ele que é “o” Real Madrid, clube do século XX.
Mas nesta mortal genialidade, nesta lógica uniformizadora, nesta sentença de que todos são iguais na doença, há um sopro vigoroso de vida que todos protagonizamos. Nas imagens mil vezes repetidas, somos mais porque ele foi nosso, esteve do nosso lado. É a hora da retribuição.

3 comentários:

  1. Caro Inferno: a sua prosa é xcelente, mas factos são factos. Quando Eusébio chegou a Lisboa, em 1960, o Sporting tinha dez títulos nacionais, o Benfica tinha outros dez, o FC Porto cinco e o Belenenses 1. Quando saiu, em 1975, o Benfica tinha 21 campeonatos nacionais, o Sporting 14, o FC Porto 5 e o Belenenses 1. Isto significa que o senhor Eusébio da Silva Ferreira – a quem O LEÃO DA ESTRELA deseja um rápido restabelecimento – foi o grande desequilibrador da balança dos títulos nacionais a favor do Benfica, concretizada nos anos sessenta, com a ajuda do presidente do Governo, Oliveira Salazar, que impediu a sua transferência para a Juventus, em 1964.

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  2. Desejo um rápido restabelecimento ao Eusébio, ex-jogador de futebol em Portugal do Benfica, Beira-Mar e União de Tomar.

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  3. Ó"Inferno da Luz" deves ter um patrão porreiro para andares a escrever patetices nas horas de trabalho.
    Ou serás padeiro e trabalhas de noite ?

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