terça-feira, 9 de janeiro de 2007

Moretto

O hábito não faz o monge, diz o povo com razão. Não vou falar de provérbios, mas, voltando à “vox populi”, daquilo que em gíria se costuma dizer “cada um é para o que nasce”.
Nos idos de 40, 50, 60, 70 ou, mesmo, 80, nos critérios para identificar o perfil de um guarda-redes a estatura não merecia qualquer prioridade. Características como a coragem, que alguns apelidavam de “loucura”, a agilidade, ou o não ter jeito para jogar à frente, indicavam aos atletas o caminho das redes.
Nomes como Bento, talvez o mais paradigmático, Botelho, Benje, Conhé, José Henriques, entre muitos outros, não primavam pela estatura, mas a “loucura” (do primeiro, por exemplo), e os reflexos foram características que os tornaram guarda-redes míticos do futebol português.
No pólo oposto estava outro nome grande das balizas, Vítor Damas, que aliava à sua estatura uma agilidade felina que marcou uma geração e que se tornou uma espécie de mito. A propósito, é lamentável como o Sporting, que se considera a si próprio um “clube diferente”, deixou cair no ostracismo um atleta e, principalmente, um homem como Vítor Damas (para já não dizer que Damas, ele próprio, foi despedido pelos de Alvalade).
Voltemos ao tema. Damas era, à época, uma guarda-redes de estatura elevada, própria para ocupar as balizas, sair aos cruzamentos e aos cantos, com mais facilidade. Se calhar, outros houve, talvez Azevedo, Barrigana, Américo, Fidalgo, mas não tenho presente a sua morfologia.
Os portugueses nunca foram altos. Por isso, nunca fomos grandes “espingardas” no basquetebol ou no voleibol. Lá fora, porém, onde estas coisas nunca são deixadas ao acaso nem ao sabor dos experimentalismos, a função de guarda-redes, como a função de poste no caso do basquetebol, começou a ser circunscrita a atletas com determinada estatura. Como é lógico.
É por isso que, em Itália, (mas também em Espanha, com Arconada e Zubizarreta) começamos a ver guarda-redes de elevadissíma estatura, a começar em Zoff e a acabar em Buffon. Até os guarda-redes brasileiros, como Dida ou José Carlos, afinam pelo mesmo diapasão. A excepção é Barthez.
Em Portugal, esta realidade fez com que se começasse a importar guarda-redes estrangeiros: Mlynarckzik ou Preud´homme, são dois nomes incontornáveis, pela sua altura e pela sua classe.
Esta longíssima introdução para dizer o quê? E para terminar. Sempre fui de opinião que o guarda-redes titular do Benfica devia ser Moretto. Não foi de ânimo leve que o Presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, o foi resgatar ao Brasil e trazê-lo para a Luz, quando o FC Porto já o ambicionava para substituir Baía.
Depois, o que se passou é do conhecimento de todos. Recordo, apenas, que Moretto havia de ser protagonista pela positiva (apesar de alguns lances caricatos) da eliminatória do ano passado na Liga dos Campeões, contra o Barcelona.
Ontem, no Dubai, contra a equipa titular do Bayern de Munique, Moretto fez jus à sua estatura e agilidade, o que o torna, ao contrário de Quim, um atleta morfologicamente apto para ocupar a baliza de um clube da dimensão do Benfica. Defendeu duas grandes penalidades, levou o Benfica à final contra a Lázio de Roma, permitiu ao clube da Luz um encaixe financeiro mínimo de um milhão de dólares. É pouco? Será, se calhar, para ocupar a baliza no jogo de 2ª feira contra a Académica, em Coimbra, para a Superliga. Mas não foi pouco para que o jornal “A Bola” tenha feito a seguinte manchete: “Moretto melhor que Kahn”.

2 comentários:

  1. Também sou da opinião do autor. O Moretto deveria ser sempre o titular da baliza do benfica. Não me posso esquecer do golo do Paços de Ferreira da época passada ... um bom momento hilariante na TV!!

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  2. Quando o Sporting for à Luz ponham o Moretto... Liedson vai gostar...

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