A OPA (Operação Pública de Aquisição) lançada pelo empresário madeirense Joe Berardo sobre o Sport Lisboa e Benfica pode abrir um debate bem mais interessante do que os comentários que, aqui e ali, se têm ouvido.
E a questão que se põe é esta: querem os sócios do Benfica que o clube passe a ser, apenas e só, uma SAD (Sociedade Anónima Desportiva), ou, pelo contrário, querem continuar a manter o seu quinhão de controlo da SAD através do clube, forma associativa composta por sócios e que esteve na base da fundação do Sport Lisboa e Benfica?
A resposta a esta questão definirá o futuro do Sport Lisboa e Benfica. A primeira opção, baseada num conceito puramente empresarial, que só existe nos clubes ingleses, consistiria no desaparecimento do Sport Lisboa e Benfica tal como o conhecemos, tal como o concebeu o fundador Cosme Damião, tal como o geriu Borges Coutinho, Ferreira Queimado, Maurício Vieira de Brito, Joaquim Bogalho.
A segunda opção, que os críticos definem como híbrida, é ainda aquela, com virtudes e defeitos, que consegue equilibrar uma necessária visão “negocial e empresarial” com a existência de dezenas de modalidades desportivas, e com um corpo associativo muito especial, como é o do Sport Lisboa e Benfica.
Dizem os mais pragmáticos que apenas a abertura total do capital da SAD do Benfica à livre negociação bolsista possibilitará encaixes financeiros tais que tornarão o sonho de novo título europeu mais real.
Como não estou certo disso; como continuo a acreditar que um jogo de futebol joga-se dentro das quatro linhas e não nas praças financeiras; como Joe Berardo - que se define a si próprio como um especulador (ver entrevista à revista Visão, de 15 de Junho) – ou outro empresário qualquer movimenta-se, legitimamente, única e exclusivamente com o objectivo do lucro; como o Benfica é principalmente futebol, mas também um clube eclético desde a fundação, com hóquei e basquetebol e voleibol e andebol e ciclismo e atletismo e futsal …; como o Benfica não são só os sócios/accionistas da SAD (uma minoria) mas também uma esmagadora maioria de homens e mulheres, de fracos recursos financeiros, espalhada pelos quatro cantos do mundo; como o Benfica é um clube centenário e o maior clube do Mundo em número de sócios… espero que o bom senso prevaleça e que não se vá hipotecar o futuro em troca de “um prato de lentilhas”.
Ou seja, o Benfica deve continuar a manter a sua génese, de clube popular, de associação desportiva de cariz universalista, que gerou ídolos como António Livramento, Carlos Lisboa, Eusébio, José Maria Nicolau, Vanessa Fernandes, António Leitão. Um clube de sócios e não um clube de accionistas…