Joe Berardo é um empresário astuto. Ontem, depois de ter lançado a OPA sobre o Benfica desdobrou-se em declarações de amor ao clube. Hoje, o jornal “A BOLA” fez o seu papel: “Benfica é o maior do Mundo”, dizia em manchete, numa declaração atribuída ao empresário madeirense.
Até no mundo da alta finança e dos mirabolantes negócios bolsistas é preciso atirar estas frases de uma óbvia grandiloquência. Sejamos justos: Berardo sabe o terreno que pisa.
Sabe, por exemplo, que no mundo do futebol a paixão e o coração falam mais alto do que os eventuais dividendos e mais-valias a encaixar por uma carteira de acções. Não fosse assim e mal avançou com a proposta de 3,5 € por acção teria sido vilipendiado na praça pública. É que, vale a pena recordar, as acções do Benfica foram colocadas há 3 anos, sem cotação bolsista, a um valor nominal de 5 € por acção. Logo, qualquer exercício matemático básico percebe que um accionista do Benfica que aceite vender as suas acções está a perder à cabeça 1,5 € em cada uma (e já não falo das comissões de custódia).
Porém, quase toda a gente ficou eufórica. Sejamos, mais uma vez, justos: eufóricos e com razão. Esta iniciativa de Joe Berardo tem um significado evidente – o Benfica é uma marca sem concorrência no mercado nacional e, no internacional, há poucas que se lhe podem comparar em atractibilidade; depois, é a prova de que o clube, ao nível da sua gestão e da sua imagem pública, está bem e recomenda-se.
Sejamos, pela terceira vez, justos: Berardo não é um empresário qualquer. É um “self made man”, que fez um percurso invulgar no meio empresarial português. Criou uma imagem de homem da Cultura, investiu em arte, constitui uma fundação com fins sociais e educativos, faz-se rodear de artistas e homens da cultura. É certo que não é um industrial, não criou riqueza, nem postos de trabalho.
Este perfil, de homem que veio do nada e se tornou cosmopolita, pode oferecer algumas razoáveis especulações: quer ele a “cereja no cimo do bolo” e alcançar a Presidência do Benfica? Ele diz que não. O que se lhe pede e o que se espera não é que o clube se torne no quadro mais valioso da sua colecção, mas que se como diz este é um “investimento cultural”, então que ajude a trazer grandes intérpretes para actuarem na Catedral.