Há coisas que devem ser ditas a frio e directas ao assunto. O Benfica foi, mais uma vez, prejudicado pela equipa da arbitragem. Ontem, na Luz, o senhor Pedro Henriques, considerado - vá lá saber-se porquê -, o melhor árbitro português, resolveu fazer uma arbitragem “à portuguesa”, ele que é visto como o mais inglês dos árbitros portugueses.
Ao longo da semana, o senhor Pedro Henriques colocou-se ao nível mediático dos jogadores, os verdadeiros artistas do espectáculo. Com os dirigentes mergulhados, e bem, num mutismo, eis o nosso “árbitro inglês” a ocupar o espaço mediático livre.
Em má hora o fez. Ficamos a saber que o senhor Pedro Henriques também é adepto dos “mind games”, como seria de esperar ou não gostasse ele de ser o “nosso” Graham Poll (para quem não sabe, um dos mais carismáticos árbitros da Velha Albion).
E o que disse Henriques? Que Ricardo e Simão eram “bons rapazes” e que Liedson e Petit “nem por isso”. Depois explicou que estas suas palavras tinham como objectivo fazer passar uma mensagem aos jogadores, para que o espectáculo não fosse estragado.
Ora, como Simão não jogou, o Benfica ficou a jogar com um “mau rapaz” contra um “bom rapaz” do Sporting. O Padre Américo não diria melhor.
Henriques, o militar, afinal falha na disciplina. Já se viu que falha na disciplina das palavras mas, pior, também falha na disciplina dos cartões. Não ver o teatro costumeiro de Liedson, outro “mau rapaz” (será?) ainda se desculpa. Agora fechar os olhos à placagem de Caneira a Miccoli, merecedora de cartão vermelho directo, e não contente com isto, ainda fechar os olhos à falta grosseira do mesmo Caneira sobre Karagounis (segundo amarelo e expulsão do jogador do Sporting, a 15 minutos do fim), só mesmo de um “árbitro à portuguesa”. Compreende-se bem, agora, porque é que os dirigentes do Sporting (só os do Sporting?) “suspiraram de alívio” quando o senhor Pedro Henriques foi nomeado para o clássico.
segunda-feira, 30 de abril de 2007
domingo, 29 de abril de 2007
A "Velha Raposa" está de volta
Quando chegou ao Benfica em 2004, depois de uma fraca campanha no Euro português com a “Squadra Azurra”, muito por culpa de não ter conseguido gerir um balneário de “primas donnas”, com Totti à cabeça, o universo benfiquista (sócios, simpatizantes, comentadores, notáveis), não ficou eufórico, pelo contrário.
Para a esmagadora maioria, Trap era “finito”, como diria Ivic, e vinha gozar uma reforma dourada, ao sol de Cascais e a comer o bom peixe nacional. Chegou com a auréola de grande senhor do futebol mundial muito esbatida e, à chegada, afirmou com dessasombro: “Sei que venho por causa da promessa de títulos, mas não sou Jesus Cristo”, disse quando olhou para o plantel que lhe colocaram à disposição. Depois, a história é conhecida: jogou quase sempre à italiana, para desespero do Terceiro Anel, e acabou com o jejum de 11 anos sem o Benfica ser campeão.
Como a gratidão é um sentimento que deve estar sempre presente, hoje é dia de felicidade para os benfiquista: Giovanni Trapattoni foi campeão austríaco, com a desconhecida equipa dos Red Bull Salzburg. É o quarto país onde consegue ser campeão, depois da Itália (5 vezes com a Juventus, 1 com o Inter, a Alemanha (Bayern de Munique) e Portugal, com o Benfica.
A “Velha Raposa” está de volta! Parabéns e obrigado Trap!
Para a esmagadora maioria, Trap era “finito”, como diria Ivic, e vinha gozar uma reforma dourada, ao sol de Cascais e a comer o bom peixe nacional. Chegou com a auréola de grande senhor do futebol mundial muito esbatida e, à chegada, afirmou com dessasombro: “Sei que venho por causa da promessa de títulos, mas não sou Jesus Cristo”, disse quando olhou para o plantel que lhe colocaram à disposição. Depois, a história é conhecida: jogou quase sempre à italiana, para desespero do Terceiro Anel, e acabou com o jejum de 11 anos sem o Benfica ser campeão.
Como a gratidão é um sentimento que deve estar sempre presente, hoje é dia de felicidade para os benfiquista: Giovanni Trapattoni foi campeão austríaco, com a desconhecida equipa dos Red Bull Salzburg. É o quarto país onde consegue ser campeão, depois da Itália (5 vezes com a Juventus, 1 com o Inter, a Alemanha (Bayern de Munique) e Portugal, com o Benfica.
A “Velha Raposa” está de volta! Parabéns e obrigado Trap!
quinta-feira, 26 de abril de 2007
A importância de se chamar Eusébio
“O Eusébio disse que não, que não tinha tempo, por ter de partir não sei para onde, mas dispôs-se a falarmos noutro dia”, apressei-me eu a comunicar por telefone para o Porto, ao director e proprietário do jornal. E o grande Alves Teixeira, que Deus já lá tem e a quem eu faço mais uma comovida vénia, de lá me respondeu, na sua voz mansa mas extremamente persuasiva: “Ó meu caro jovem, você já devia saber que um não do Eusébio vale duas páginas!”.
Daniel Reis, um conhecido jornalista do Sporting, na sua coluna de hoje, em “A Bola”, ao recordar os primeiros tempos de repórter desportivo, então na redacção de Lisboa de “O Norte Desportivo”.
Ainda Daniel Reis, na mesma coluna, com uma outra recordação: “Já Eusébio não jogava seguramente que há mais de uma década e noutros jornais de informação geral, por onde entretanto passei, havia uma ordem explícita, diariamente transmitida ao piquete de serviço depois de a redacção fechar a edição do dia: “As máquinas só param se morrer o papa… ou o Eusébio”.
Porque é que registo estas palavras da autoria do sportinguista Daniel Reis? Porque há quem não entenda o “circo mediático” que se instalou à porta do hospital onde Eusébio se encontrava hospitalizado. É muito simples: há Homens que hão-de viver e morrer com o peso do seu nome.
Daniel Reis, um conhecido jornalista do Sporting, na sua coluna de hoje, em “A Bola”, ao recordar os primeiros tempos de repórter desportivo, então na redacção de Lisboa de “O Norte Desportivo”.
Ainda Daniel Reis, na mesma coluna, com uma outra recordação: “Já Eusébio não jogava seguramente que há mais de uma década e noutros jornais de informação geral, por onde entretanto passei, havia uma ordem explícita, diariamente transmitida ao piquete de serviço depois de a redacção fechar a edição do dia: “As máquinas só param se morrer o papa… ou o Eusébio”.
Porque é que registo estas palavras da autoria do sportinguista Daniel Reis? Porque há quem não entenda o “circo mediático” que se instalou à porta do hospital onde Eusébio se encontrava hospitalizado. É muito simples: há Homens que hão-de viver e morrer com o peso do seu nome.
terça-feira, 24 de abril de 2007
Et Pluribus Unum
segunda-feira, 23 de abril de 2007
Dois Países a teu lado, e o Mundo
Há muito de mortal na genialidade. Esses deuses, imans planetários, são, no entanto, de carne e osso, de vícios e devaneios, de pecados ocultos pela sua enorme aura de mitos sagrados.
Na música, na ciência, no desporto. Elevam-se até à imortalidade. Elevam-nos aos céus da euforia, do espanto, do reconhecimento, da admiração. Homens como nós. Desafiadores da gravidade, da normalidade. Inacessíveis e, agora, tão dependentes, tão mortais.
No génio da bola descobrimos três: lendas, mitos, “monstros”. Alfredo Di Stéfano, Diego Armando Maradona, Eusébio. Buscaram e atingiram a perfeição. E, no entanto, as maleitas terrenas não os deixaram passar incólumes. Até nisso são iguais, sublimes.
Iguais a nós na doença, inimitáveis na arte, a sua arte.
Há alguns meses atrás, a “Saeta Rubia”, o anjo branco, saía em cadeira de rodas de um hospital de Madrid. O divino calvo, Dom Alfredo, glória madridista, caiu, como todos nós, numa cadeira de rodas, símbolo irónico para quem passeou altivo nos relvados do mundo uma classe única.
Na “mão de Deus” está, agora, outro astro argentino. El Pibe esgotou todas as fichas na roleta da vida. Em Nápoles, no San Paolo, ou em Buenos Aires, na “La Bombonera”, reza-se uma missa pagã, em nome de um Dios, uma Evita de camisola celeste listada com um “Diez” nas costas. “Don´t cry for me Argentina”.
No Hospital da Luz, impagável analogia, ele que nunca virou as costas à Luz, D. Flora espera, como há 40 anos, quando junto à cama acompanhava o restabelecimento do “Pantera Negra” após mais uma operação aos joelhos.
D. Flora, flor de Mafalala, espera e com ela dois países e o Mundo. Eusébio não está de pé, imperial, a destroçar a Coreia, o Brasil, o Santos, o Real Madrid ou o Barcelona. Está deitado, como há 40 anos. Como Maradona não está de pé a arrasar a Inglaterra e a vingar as Maldivas. Também não estão sentados como D. Alfredo, empurrado numa cadeira de rodas, ele que é “o” Real Madrid, clube do século XX.
Mas nesta mortal genialidade, nesta lógica uniformizadora, nesta sentença de que todos são iguais na doença, há um sopro vigoroso de vida que todos protagonizamos. Nas imagens mil vezes repetidas, somos mais porque ele foi nosso, esteve do nosso lado. É a hora da retribuição.
Na música, na ciência, no desporto. Elevam-se até à imortalidade. Elevam-nos aos céus da euforia, do espanto, do reconhecimento, da admiração. Homens como nós. Desafiadores da gravidade, da normalidade. Inacessíveis e, agora, tão dependentes, tão mortais.
No génio da bola descobrimos três: lendas, mitos, “monstros”. Alfredo Di Stéfano, Diego Armando Maradona, Eusébio. Buscaram e atingiram a perfeição. E, no entanto, as maleitas terrenas não os deixaram passar incólumes. Até nisso são iguais, sublimes.
Iguais a nós na doença, inimitáveis na arte, a sua arte.
Há alguns meses atrás, a “Saeta Rubia”, o anjo branco, saía em cadeira de rodas de um hospital de Madrid. O divino calvo, Dom Alfredo, glória madridista, caiu, como todos nós, numa cadeira de rodas, símbolo irónico para quem passeou altivo nos relvados do mundo uma classe única.
Na “mão de Deus” está, agora, outro astro argentino. El Pibe esgotou todas as fichas na roleta da vida. Em Nápoles, no San Paolo, ou em Buenos Aires, na “La Bombonera”, reza-se uma missa pagã, em nome de um Dios, uma Evita de camisola celeste listada com um “Diez” nas costas. “Don´t cry for me Argentina”.
No Hospital da Luz, impagável analogia, ele que nunca virou as costas à Luz, D. Flora espera, como há 40 anos, quando junto à cama acompanhava o restabelecimento do “Pantera Negra” após mais uma operação aos joelhos.
D. Flora, flor de Mafalala, espera e com ela dois países e o Mundo. Eusébio não está de pé, imperial, a destroçar a Coreia, o Brasil, o Santos, o Real Madrid ou o Barcelona. Está deitado, como há 40 anos. Como Maradona não está de pé a arrasar a Inglaterra e a vingar as Maldivas. Também não estão sentados como D. Alfredo, empurrado numa cadeira de rodas, ele que é “o” Real Madrid, clube do século XX.
Mas nesta mortal genialidade, nesta lógica uniformizadora, nesta sentença de que todos são iguais na doença, há um sopro vigoroso de vida que todos protagonizamos. Nas imagens mil vezes repetidas, somos mais porque ele foi nosso, esteve do nosso lado. É a hora da retribuição.
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