quinta-feira, 31 de maio de 2007
Uma história Real
Esta é uma bela história, uma história Real. Significa que apostar na formação deve ser para os pequenos clubes um incontornável desígnio. E significa que os grandes clubes só têm a ganhar com a aposta nos jovens talentos nacionais, independentemente da discussão sobre o “timing” da sua venda a clubes estrangeiros.
No caso do dirigismo, afinal nem tudo é triste no futebol. Em Massamá está um dirigente que nos permite sonhar com um futebol mais credível. Com vários campos relvados, piscina, pista de tartan, e tendo em actividade diversas modalidades, o Real Sport Clube mereceu esta valiosa prenda. O futuro passa por ali.
Post-Scritum – O Benfica já resolveu o caso do Director-Geral para o futebol. Se resolveu bem ou mal, é tema para posteriores análises. A indefinição seria mais prejudicial, como assinalamos no “post” anterior.
quarta-feira, 30 de maio de 2007
Avisos à navegação
Palavras de ambição, que são bem-vindas. É preciso, agora, passar das palavras aos actos. A tarefa mais dura cabe a Fernando Santos. A margem de manobra é curta e os erros do início da época passada não se podem repetir este ano.
Em 2 de Julho, disse querer o plantel fechado. Parece-me bem, até porque vem pouco depois uma pré-eliminatória de acesso à Liga dos Campeões. Deste meu lugar de observador e comentador, aconselho desde já várias coisas a Luís Filipe Vieira e a Fernando Santos: 1- Não deixar arrastar uma eventual novela em torno do sai/não sai de Simão. Este conselho também serve para Luís Filipe Vieira, em cujas mãos se concentra esta decisão. Decidir atempadamente pela continuação ou venda de Simão evita dois males que podem contaminar a época: intranquilidade do jogador e indefinição do plantel; 2 – Nomeação já (da responsabilidade de Luís Filipe Vieira) de um director-geral para o futebol. O Presidente não pode assumir uma presença quotidiana junto do plantel, nem a gestão corrente dos assuntos ligados ao futebol. As grandes contratações e as grandes vendas têm de passar por Vieira, mas questões como as dispensas, empréstimos, accionar opções de compra, rescisão definitiva de contratos, etc… têm de ficar sob a alçada de um director-geral, chame-se ele Veiga ou não. A indefinição em torno da reentrada, ou não, de Veiga não se pode prolongar, sob pena de ser outro eventual foco de instabilidade; 3 – Definição total do plantel até 2 de Julho, como pediu Santos. Os grandes “casos”, como Simão, Nuno Gomes, Miccoli, Luisão ou Mantorras têm de ser geridos directamente pelo Presidente. Os “casos” menores devem ser delegados no director-geral, insisto, a nomear já; 4 – Definir quanto antes da entrada ou não na Taça da Liga (na minha opinião, a presença do Benfica nesta prova menor não faz sentido por muitas razões), sob pena de prejudicar o planeamento de toda a época; 5 – Contratação imediata de um guarda-redes que faça a diferença, de preferência estrangeiro, de um lateral-direito (Marc Zoro, apesar de polivalente, não chega), de preferência português, de um médio criativo, ao nível de Rui Costa, só no mercado estrangeiro, de um extremo, se Simão sair, e de um ponta-de-lança estrangeiro (Zalayeta, de quem se fala, parece-me um bom nome), ou dois, se Nuno Gomes ou Mantorras sairem; 6 – Adopção, por parte de Santos, de um discurso uniforme e coerente, inteligível para os adeptos. Não se pode repetir esta época, em que começou por defender uma táctica, depois disse que a ia abandonar, mais tarde disse que os desenhos tácticos variariam em função do adversário. Pior que confundir os adeptos foi confundir os jogadores; 7 – Pode ser mera coreografia, mas era bom que Fernando Santos mostrasse mais energia e mais alegria no banco. Todos sabemos como isso é animicamente importante; 8 – Evitar recompor o plantel em Dezembro, na abertura de mercado, o que só é possível se, agora, se fizer bem o trabalho de casa; 9 – Integrar no plantel definitivo 2/3 ex-juniores. O plantel desta época era curto, como Santos confirmou (“mea culpa”, mister!), e o Benfica deve começar a apostar a sério na formação; 10 – “last but not least”, Atitude de ganhadores, desde o primeiro dia, seja nas conferências de imprensa, seja nas entrevistas, seja no relvado, tanto dos jogadores, como da equipa técnica, como dos dirigentes. É preciso dizer quem somos e ao que vimos. Porque somos Benfica!
Post-Scriptum – Esta época começou mal e acabou mal. É inadmissível o nível de desorganização da digressão aos Estados Unidos, independentemente de quem teve a culpa. Não basta a Luís Filipe Vieira virar costas e vir embora. Importa que não permita que volte a acontecer.
sábado, 26 de maio de 2007
O rei vai nu...
Artur Jorge podia ter sido tudo no futebol europeu. Talvez, quem sabe, aspirar a liderar a UEFA, a organização europeia de futebol, hoje presidida por Platini, antiga glória francesa.
“Jorge”, como lhe chamam os franceses (e não “Roi Artur”, uma invenção dos jornais desportivos portugueses), era um príncipe do seu tempo de jogador. Bem falante, bem educado, bem formado.
Antes de 25 de Abril de 74, já ostentava no currículo 4 campeonatos nacionais e 3 taças de Portugal, ganhas com a camisola do Benfica, e o título de melhor marcador do campeonato, por duas vezes consecutivas, com o seu célebre pontapé de moinho. Depois da Revolução dos Cravos, distinguia-se por ostentar no cartão de visita o epíteto de “Dr.”, devido à sua licenciatura em Germânicas e, mais tarde, o carimbo de qualidade de um curso de treinador tirado na ex-República Democrática Alemão.
Num meio não particularmente exigente quanto à formação académica, Artur Jorge era, e ainda é, um caso raro. Um “intelectual da bola”, ainda por cima poeta, num ambiente onde a iliteracia dominava não lhe abriu, de imediato, a porta dos grandes clubes. Chegou ao Porto em 84 e, em 87, é campeão europeu. “Jorge”, no entanto, sai para Paris, para treinar uma equipa-empresa, construída não se sabe para quê, o Matra-Racing.
Ainda não tinha atingido o “topo do Mundo”. Em 1994, numa célebre entrevista à RTP, abre o coração e revela aquilo que toda a gente desconfiava: “a minha maior ambição é treinar o Benfica”. Manuel Damásio, acabado de ser eleito presidente e querendo uma entrada em grande, faz-lhe a vontade – despede Toni, campeão, e contrata Artur Jorge. Estava consumado um dos erros de gestão desportiva mais trágicos do Benfica (Manuel Damásio não se ficou por aqui e também ao nível da gestão financeira provocou o caos). “Jorge” manda embora Vítor Paneira, Isaías, entre outros, e desfaz uma fabulosa equipa. Contrata Nelo, Tavares, Paulo Pereira e, vejam bem, chama o professor Neca para adjunto. É despedido um ano depois, salvo erro à terceira jornada, depois de 3 empates consecutivos – por indecente e má figura.
Hoje treina o Créteil Lusitanos, uma equipa da 2ª divisão francesa, em vias de descer ao escalão inferior. Há dias, o Expresso julgou que Artur Jorge ainda era capaz de ter alguma coisa de inteligente para dizer. Deu-lhe 10 páginas de entrevista na Revista Única. Foi uma maldade o que lhe fizeram. Aqui neste blog vamos ter alguma comiseração por ele, e colocamos uma foto de quando era jogador do Benfica. Pobre “Jorge”, o rei vai nu…
sexta-feira, 25 de maio de 2007
Ao Rui Pedro e à Maddie
No Dia Mundial das Crianças Desaparecidas, a singela homenagem do blog O INFERNO DA LUZ a todas as crianças do Mundo sujeitas à perversidade dos homens. Em nome de um Mundo melhor, é preciso que a memória não se apague e que elas não sejam esquecidas. Aqui ficam dois símbolos, dois rostos, duas chamas, do melhor que o Mundo tem.
Onde estás Madeleine?
Onde estás Rui Pedro?
Porque é que já nada disto surpreende?
FOTO JN
Recentemente, uma polémica envolveu o Benfica e a Polícia a propósito dos incidentes que marcaram o jogo de futebol com o FC Porto, na Luz. Disse a Polícia, no rescaldo dos acontecimentos, que a culpa do comportamento dos adeptos portistas, vulgo claque dos superdragões, se deveu a má organização por parte do Benfica. Na versão policial, os "ordeiros" adeptos azuis, coitados, não tinham culpa nenhuma de os terem enviado para o segundo anel e, perturbados com as vertigens, toca de lançarem cadeiras e petardos para cima das pessoas instaladas na bancada inferior. Ironias à parte, pergunto agora: será que também não gostam de basquetebol e foram ao engano?
quinta-feira, 24 de maio de 2007
Não acredito em bruxas, pero que las hay, las hay
Leonor Pinhão, in “A Bola”, na sua crónica habitual das 5ªs feiras,
“Contra a corrente”
quarta-feira, 23 de maio de 2007
Factos e números
Benfica cai na estreia mas
As acções da Benfica SAD estrearam-se ontem na bolsa. O arranque foi fulgurante, mas os títulos não aguentaram a pressão vendedora.
SL Benfica – 66,3 milhões de capitalização bolsista
Sporting CP – 53,5 milhões de capitalização bolsista
FC Porto – 36 milhões de capitalização bolsista
Dados recolhidos hoje no “Jornal de Negócios” e no “Diário Económico”
terça-feira, 22 de maio de 2007
Acções e acções
Mais que os números, o que interessa sublinhar são duas coisas: 1ª Luís Filipe Vieira cumpriu o que prometeu aquando do lançamento da operação, há 3 anos atrás; 2ª A imagem de credibilidade da gestão benfiquista, cujos louros devem ser entregues ao Presidente encarnado e a Domingos Soares Oliveira, administrador da SAD do Benfica, é a principal responsável por este resultado. A título de exemplo refira-se que as acções do FC do Porto SAD, apesar da conquista do campeonato, desvalorizaram. Dá que pensar, não dá?
segunda-feira, 21 de maio de 2007
10 causas para o insucesso
2 – A lesão de Rui Costa logo no primeiro jogo, contra o Boavista e tudo o que depois se seguiria, nomeadamente os erros de diagnóstico médico;
3 – A indefinição de um modelo de jogo. Fernando Santos começou por apostar no losango, passou depois para o 4-4-2, testou o 4-3-3. Esta confusão táctica, também muito por culpa das ausências prolongadas de Rui Costa por lesão, acabaram por ter consequências nos altos e baixos da equipa;
4 – O “caso” Veiga. As peripécias judiciais e mediáticas à volta de José Veiga abalaram o balneário. Independentemente da opinião que se possa ter sobre a pessoa de José Veiga, o certo é que o director-geral para o futebol tinha peso no seio da equipa;
5 – O “caso” Apito Dourado. Ao contrário do que se diz e do que se escreve, a saga de Luís Filipe Vieira pela credibilização do futebol português prejudicou em muito o Benfica dentro das quatro linhas. De cabeça aponto só as arbitragens em Aveiro, com o golo anulado a Nuno Gomes e os vários fora-de-jogo assinalados contra o Benfica, numa altura crucial do campeonato, a não expulsão de Caneira, no Benfica-Sporting, - para só falar nas últimas jornadas do campeonato.
Vieira verberou, durante a maior parte da época, a necessidade de acelerar o processo Apito Dourado, pediu/exigiu que a Liga fosse assistente (parte interessada) do processo, desdobrou-se em iniciativas junto dos poderes públicos para mostrar o factos de que tinha conhecimento e que demonstravam que o futebol português nos últimos 15 anos era uma mentira. Vieira pregou no deserto, mas honra lhe seja feita. No relvado, a equipa sentiu da parte dos árbitros esta saga moralizadora. O “sistema” reagia e defendia-se…
6 – As falhadas contratações de Inverno. Saiu um ponta-de-lança, Kikin Fonseca, veio um jogador fora de forma e inadaptado, Derlei;
7 – A inglória eliminação da Taça de Portugal, aos pés do Varzim, da Liga de Honra;
8 – A infeliz eliminação da Taça UEFA, nos quartos de final, aos pés do Espanhol de Barcelona, que atingiria a final, e que abalou animicamente a equipa;
9 – A má gestão do “caso” Mantorras. Sem Kikin, com Nuno Gomes em claro défice de forma, com Miccoli preso por pinças (ele que não é homem de área), o Benfica não teve durante a maior parte da época um verdadeiro ponta-de-lança. Mantorras era o único que sabe o que é “cheirar” o golo, para mais tendo uma empatia tremenda com o Terceiro Anel. É difícil explicar porque só joga 10/15 minutos, com o rendimento que se vê, como ontem contra a Académica.
10 – Um equipamento alternativo, camisola beje ou amarelo torrado e calções pretos, que não lembra ao diabo, nem ao mais incompetente marketing desportivo. Sempre que jogava com tal farda, o Benfica perdia (só me lembro de uma vitória com tal equipamento, na Madeira, contra o Marítimo). Já não era só superstição, aquela camisola fazia os jogadores tristes e os adeptos desolados. Que o erro não se volte a repetir.
domingo, 20 de maio de 2007
Felicidades, Lena
Naquela noite quente, em cima do palco, toda de branco vestida, ela prendeu todas as minhas atenções. Líder carismática do grupo musical “Salada de Frutas”, sex-symbol de um país a refazer-se, Lena d´Água, a Lena, cantou e encantou. Depois, entristeceu, como o país, desapareceu do “plateau”, ela que desde criança se habituou à lei da fama por ser filha de quem era – o grande capitão José Águas.
Regressa aos 51 anos à televisão, às revistas, aos jornais, com um disco de jazz gravado ao vivo no Hot Clube. Porque é filha de José Águas e irmã de Rui Águas; porque um país tem de ter memória e não pode desperdiçar os seus melhores; porque nunca deixamos de a adorar. Porque ela é nossa. Felicidades Lena.
A Taça da Liga morreu
A Taça da Liga, recorde-se, é uma prova “inventada” por Hermínio Loureiro, presidente da Liga, supostamente para dar mais receitas aos depauperados cofres dos clubes portugueses.
Não vamos reflectir agora sobre se o modelo desta competição tem pernas para andar, ou se o já de si carregado calendário futebolístico comporta mais jogos, o que se sublinha é o óbvio: sem o Benfica, bem pode Hermínio Loureiro meter a viola no saco e ir pregar para outra freguesia
Sabe-o bem, também, Luís Filipe Vieira. O Benfica é a principal atracção de qualquer competição e máximo gerador de receitas de bilheteira e televisivas. Sem o Glorioso, a prometida chuva de euros passa a chuva ácida.
Raras vezes soube o Benfica fazer valer este seu incontornável trunfo. Pelo contrário, sempre apareceu resignado aos “diktats” de outros, na Liga, na Federação, nas Associações. Sofremos humilhações à custa de anos sucessivos de lideranças fracas, incompetentes, subservientes. Parece agora que os ventos da História estão a mudar.
Às vezes, o simbolismo de algumas atitudes é meio caminho andado para passar mensagens claras e contundentes. Há muitos anos, no início do consulado de Pinto da Costa à frente do FC do Porto, o então e ainda líder dos portistas anunciava grandiloquente que não deixava os jogadores do Porto jogar pela Selecção um jogo particular a realizar contra a Espanha em Vigo. Não me recordo agora do que estava em causa, mas o que importa é assinalar que este foi o primeiro episódio de uma série de imposições de Pinto da Costa aos poderes fácticos do futebol português, nem que para tal tivesse de prejudicar a Selecção Nacional. Tomou uma posição de força e todos cederam aos seus caprichos. Desde aí, a história é bem conhecida e é uma história triste.
Não queremos ver Luís Filipe Vieira imitar Pinto da Costa. Recordamos este episódio porque ele teve muito de simbólico para o posterior domínio do FC do Porto no futebol português.
Queremos um Benfica que se bata pelas causas justas e que reivindique o respeito de todos pela sua importância e dimensão. Por isso, estamos com Vieira nesta recusa em participar na Taça da Liga, cuja morte já está anunciada.
O Benfica não se pode aliar a um presidente da Liga que, como se constata em recentes conversas telefónicas tornadas públicas no âmbito do Processo “Apito Dourado”, tem uma relação de subserviência com Valentim Loureiro.
Hermínio Loureiro, que não confundo com a “máfia” que grassa no futebol português, não passa de um joguete nas mãos de quem quer a continuação dos bons velhos métodos do “sistema”.
Outra vez, Special One
Depois de uma semana atribulada, após a derrota na Premier League e a eliminação aos pés do Liverpool na meia-final da Liga dos Campeões, que culminou com a caricata história de cadela que não tinha as vacinas em dias, José Mourinho voltou a ser José Mourinho.
O regresso à normalidade, que é como quem diz às vitórias, não podia ter escolhido melhor palco, o novo Estádio de Wembley e a final mais emblemática do futebol mundial: a Final da Taça de Inglaterra.
Se tal não bastasse, e bastava, ainda um ingrediente suplementar ajudava a transformar este jogo num jogo de sonho, o adversário chamava-se Manchester United, ou Cristiano Ronaldo?, ou Sir Alex Ferguson? Pouco importa, para Mourinho era uma espécie de 3 em 1.
Ao contrário de Roman Abramovich, que se mostrou nas bancadas de Wembley vestido de calças de gangas e de pullover, Mourinho envergou o seu melhor fato Armani. Podia ter imitado o também setubalense Quinito, então treinador do Sporting de Braga, que apareceu em pleno relvado do Estádio Nacional envergando smoking, para disputar uma Final da Taça de Portugal contra o Sporting de Lisboa.
Sem smoking mas de Armani, Mourinho liderou o Chelsea de Drogba, de Terry, de Lampard, à vitória por 1-0 sobre o Manchester United. Outra vez, “Special One”.
terça-feira, 8 de maio de 2007
Mais que um simples gesto
O que foi dito no “post” sobre Lilian Thuram serve às mil maravilhas para o que se passou, ontem, no Palácio de Belém. Eusébio, o “Pantera Negra”, recebido em audiência pelo Presidente da República, não pode deixar de ter um significado mais lato, que extravassa o simples gesto de agradecimento do antigo jogador do Benfica e da Selecção ao apoio de Cavaco Silva, durante a sua hospitalização.
Este momento é bem a “imagem” do que fomos, do que somos, do que queremos continuar a ser: um País multiracial e multiétnico. Eusébio é o símbolo maior dessa nossa miscigenação, de que nos orgulhamos, como Coluna, Matateu, Hilário, entre muitos outros.
Lilian Thuram, Sarko e Ségo
Lilian Thuram é jogador de futebol e é negro. Fez parte das maiores Selecções que a França já teve, só comparadas à espantosa “tricolor” que caiu, ingloriamente, aos pés da Alemanha no Mundial de 82, em Espanha. Uma “tricolor” que tinha Platini, Giresse, Tigana, Fernandez, Trésor, Rocheteau, Six. Nenhum foi campeão do Mundo.
Thuram foi. Ergueu a “Jules Rimet” numa quente tarde de Julho, em pleno Stade de France, depois dos “Bleus” terem esmagado o Brasil por 3-0. A seu lado estavam Zidane, o eterno Zizou, Emanuel Petit, Fabien Barthez, Desailly, Deschamps, Candela, Pires, Henry, Djorkaeff.
Lilian Thuram foi, e é, um grande jogador de futebol. Jogou na Juventus, joga no Barcelona. Sempre ao mais alto nível. Mas, para além disso, é, caso raro, um cidadão com ideias próprias, claras, consistentes. E que não teme expô-las.
Não posso, um pouco por invulgaridade, um pouco por homenagem a “toute la France” do Mundial de 98 e que – como eu – desceu os Campos Elísios na festa do futebol total, respigar uma marcante entrevista dada por Lilian Thuram ao “Libération”, antes da segunda volta das eleições presidenciais que elegeram Nicolas Sarkozy.
O que pensa dos resultados da primeira volta?, perguntou-lhe Chérif Ghemmour, enviado do “Libé” a Barcelona.
“…A minha prioridade é fazer tudo para que as pessoas vivam em conjunto e se respeitem e que não se procurem bodes expiatórios. Ora, é isso que fazem Le Pen, Villiers (do Movimento pela França, extrema direita) e, ultimamente, Sarkozy. Acho que a minha visão da sociedade não é a de muitos, visto que Sarkozy ficou à frente”.
O cursor do debate político deslocou-se, portanto, para a direita e mesmo a extrema-direita?
Completamente! Infelizmente, houve uma viragem após o 11 de Setembro de 2001. Entrámos num ciclo de medos, de desconfiança. O que se passou nos bairros periféricos teve um peso enorme no imaginário colectivo. Quando se dão manifestações daquela ordem, há sempre uma ascensão do racismo. Atravessamos uma verdadeira crise da cidadania.
Mas o povo francês, ou pelo menos uma boa parte dele, tem uma dificuldade real em dar lugar a esses “outros” franceses…
Hoje, em França, o inconsciente colectivo é assim: o outro é diferente, é inferior. Como explicar às pessoas que se pode ser francês sendo todos iguais? Hoje, em França, as pessoas declaram-se mais facilmente racistas do que dantes. Deviam ter medo desse sentimento: se forem mais racistas, os outros também o serão.
Qual dos dois candidatos se aproxima mais do seu “projecto de vida”?
É evidente que Nicolas Sarkozy não se enquadra no “viver em conjunto”. Recusar dar-se ao trabalho de recordar as memórias é recusar-se a avançar. É preciso reler o passado para preparar o futuro. Ele está disposto a tudo para ser Presidente. Diz aquilo que as pessoas querem ouvir…Já lhe disse que desperta o racismo latente das pessoas e estou disposto a repetir-lho.
E Ségolène Royal?
Ela correu o risco de dizer que queria uma França de mestiçagem. É um risco porque penso que a maioria dos franceses não está preparada para ouvir esta ideia.
Teria gostado que os desportistas franceses se tivessem envolvido mais nesta campanha?
Relativamente à estigmatização dos imigrantes e dos jovens dos bairros periféricos, sim, lamento que não tenha havido mais envolvimento. Porque a maior parte de nós teve um percurso bastante semelhante: viemos das camadas da sociedade ditas “desfavorecidas” e, portanto, temos todos a mesma sensibilidade.
Muitas pessoas pensam que os negros e os árabes são vítimas da sociedade e devem forçosamente votar à esquerda…Não será uma forma de racismo encarar as pessoas segundo um código predefinido?
Evidentemente! Pode-se ser negro e votar Le Pen, Sarkozy ou à esquerda…No que me diz respeito, é muito difícil não ser sensível a algumas coisas mais incomodativas.
A França não estará a mentir a si própria, ao tardar em oferecer às suas “minorias visíveis” o lugar que estas têm o direito de esperar?
De qualquer modo, a França não consegue ver-se tal e qual é…Vou muito ao estrangeiro e a acusação mais frequente que é feita aos franceses é de serem pretensiosos. O nosso país vive na recordação da “Grande França”. Hoje, é urgente que encontremos qualquer coisa mais inteligente…
E já estamos nesse caminho?
Não é certo que o consigamos…
Independentemente de concordarmos ou não com as ideias de Lilian Thuram, uma coisa é mais que certa, não há ninguém no futebol português a falar assim. Lilian Thuram, um grande jogador dentro e fora dos relvados.
segunda-feira, 7 de maio de 2007
Tempo Extra
Com páginas “broadsheet” (o chamado lençol), de um grafismo antiquado, em que as reportagens eram distribuídas por várias páginas, o jornal tinha alma, transpirava orgulho, qualidade, credibilidade e rigor.
E tinha nomes grandes, únicos, do nosso jornalismo. E que nomes?! Vítor Santos, o Chefe, Carlos Pinhão, Carlos Miranda, Aurélio Márcio, Alfredo Farinha, Homero Serpa, Santos Neves.
Rui Santos, ex-jornalista de “A Bola”, colaborador do “Correio da Manhã” e da SIC Notícias, carrega o apelido que seu tio lhe legou e, com ele, tudo o que Vítor Santos foi como jornalista: integridade, verdade, rigor, qualidade.
No seu “Tempo Extra”, de domingo na SIC Notícias, Rui Santos não fez jus ao apelido que usa. Na sua análise ao jogo Benfica-Naval, deixou a ideia de que o golo apontado por Miccoli tinha ocorrido em circunstâncias estranhas. Para isso, recorreu às palavras de Fernando Mira, o treinador da Naval, que afirmou que ninguém marca um golo de costas, e deixou no ar a suspeição sobre o defesa e capitão da Naval, Fernando, que na altura cobria o jogador italiano do Benfica. “Na Figueira e na Naval tem-se passado coisas estranhas”, atirou Rui Santos, falando de empresários e de telefonemas, sem concretizar uma coisa ou outra.
Um jornalista com a exposição mediática de Rui Santos tem de ter mais cuidado com o que diz. E tem de ter a certeza do que diz. Insinuações deixadas no ar, meias frases, palavras lançadas ao vento, nada disso é jornalismo. Pelo menos aquele a que Vítor Santos sempre nos habituou.
Reconhecemos a Rui Santos coragem em muito do que diz e do que escreve – nomeadamente no que diz respeito à necessidade de regeneração do futebol português, que, também aqui, neste blogue, pugnamos. Mas isso só será uma evidência quando regressarem os princípios pelos quais Cândido de Oliveira, Vítor Santos, Carlos Pinhão, Aurélio Márcio e tantos outros deram toda a sua vida de jornalistas.
E entre esses princípios está uma máxima do jornalismo, postada no cabeçalho do “The New York Times”: “All the news that fit to print” (“Só notícias que merecem ser publicadas”). Só factos, factos, factos, meu caro Rui Santos.
quarta-feira, 2 de maio de 2007
Parabéns, Campeões!
Para a História, fica a ficha de jogo daquela gloriosa noite de 2 de Maio de 1962:
BENFICA, TAÇA DOS CAMPEÕES, 1962
Final, Estádio Olímpico de Amesterdão, 2 de Maio de 1962
65 mil espectadores
Benfica-Real Madrid, 5-3
(Águas, 25; Cavém, 34; Coluna, 51; Eusébio, 65 e 68 gp) (Puskas, 17, 23 e 38)
Benfica: Costa Pereira; João, Germano, Angelo; Cavem, Cruz; José Augusto, Eusébio, Aguas, Coluna e Simões.
Treinador: Bella Guttmann.
Real Madrid: Araquistain; Casado, Santamaría, Miera; Felo, Pachin; Tejada, Del Sol, Di Stéfano, Puskás, Gento.
Treinador: Miguel Muñoz.
Obviamente, demita-os!
Vieira não conquistou a simpatia dos notáveis, não tinha nascido em berço de ouro, falava de maneira directa e dispensava o protocolo. Tinha tudo para ser triturado nos corredores da Luz.
À sua maneira, olhou em volta e atirou: “Comigo acabaram-se as vaidades e os “papagaios””. Papagaios, na gíria de Vieira, eram os “notáveis” que por dá cá aquela palha vinham para os jornais, geralmente quando o Benfica perdia, dizer mal de tudo e de todos, do treinador aos jogadores e aos dirigentes. Eram, geralmente, ex-dirigentes a sonhar com o regresso.
Quatro anos depois de ter entrado no Benfica como assessor da Direcção, Luís Filipe Vieira pode dizer que quase conseguiu acabar com as vaidades e os “papagaios”. Mas fez muito mais, desde o lançamento de uma série de projectos, como o kit Novo Sócio, que permitiu ao Benfica alcançar o primeiro lugar mundial em número de sócios, à construção da Nova Catedral, passando pela restauração da imagem de credibilidade do clube, alicerçada na recuperação financeira.
Não é o tempo de fazer o balanço destes anos, a que não é despiciendo juntar as extraordinárias “performances” das modalidades, como o futsal, o voleibol, o andebol, o hóquei, o basquetebol, o regresso do ciclismo – no fundo, a manutenção e reforço do ecletismo, símbolo do clube. A Luís Filipe Vieira, primeiro, e a muita gente mais ou menos ilustre, se deve este renascer da Fénix.
É, por isso, que Vieira não pode pôr em causa todo este trabalho, ignorando o que se passa ao nível da estrutura médica do clube, nomeadamente junto à equipa de futebol, a alma do Benfica.
Desde os casos de “doping” ainda não totalmente esclarecidos nas várias modalidades, a que se soma o “caso” Nuno Assis, até às sagas clínicas que têm assolado os jogadores mais marcantes da equipa, Rui Costa, Luisão, Simão, Miccoli, agora Nuno Gomes, tudo tem acontecido. E ninguém dá a cara…
Esperam os benfiquistas que o Presidente do Benfica faça jus à sua imagem: cortar a direito. A culpa não pode morrer solteira e Vieira já mostrou que não convive bem com a incompetência.
Não basta ter um excelente profissional como Domingos Soares Oliveira na área financeira, com os resultados que se conhecem, de que é último exemplo o encaixe conseguido no empréstimo obrigacionista.
É preciso que áreas tão sensíveis e importantes, como o Departamento Médico do clube, esteja ao nível do que se exige numa Instituição como o Sport Lisboa e Benfica. O que não tem acontecido, repetidas e sistemáticas vezes. Por isso, Luís Filipe Vieira só tem uma saída, demiti-los…
Também eu?
A menos de duas horas do início do clássico, “rumores” levaram a SIC Notícias e a Sport TV a avançar com a notícia de que “Simão estava fora do derby”. Uma informação dada a título “oficioso”, como estas duas estações de televisão não se cansavam de sublinhar. Do lado do Benfica, silêncio absoluto.
Simão não jogou. No final do jogo, na conferência de Imprensa, Fernando Santos foi confrontado por um jornalista com outro “rumor”: Simão tinha-se recusado a jogar, o que havia causado mal-estar no seio dos dirigentes do Benfica.
Santos desmentiu o “rumor”, mas, até ele, foi incapaz de esclarecer toda a situação. Limitou-se a dizer que Simão apresentou queixas no sábado e que na manhã do jogo fez um derradeiro teste. Os médicos, disse, informaram-no que Simão não estava em condições.
Hoje, outra notícia clínica marca as primeiras páginas dos jornais desportivos e o quotidiano do Benfica: Nuno Gomes tem pubalgia e vai “à faca”, que é como quem diz, vai ser operado e, para ele, a época acabou. O que é a pubalgia? “Sendo a pubalgia uma lesão tão incapacitante, devemos preveni-la e para isso é necessário uma estreita colaboração entre o ATLETA o TREINADOR o MÉDICO o FISIOTERAPEUTA. A sua prevenção passa por um treino programado e progressivo e devem ser prevenidos e tratados todos os factores predisponentes. A cirurgia está reservada, para os casos decorrentes de sofrimento das estruturas tendino-aponevrótivas, desde que não haja evolução favorável após três meses de tratamento médico, bem instituído e desenvolvido” in www.alternet.pt/olympica/tele-olympica/pubalgia.html. Leiam com atenção e tirem a única conclusão possível: há uma completa desintonia entre o atleta, o treinador, o médico e o fisioterapeuta.
E já nem vou lembrar os “casos” Rui Costa, que estava lesionado, afinal não estava, afinal ficou lesionado, afinal era uma ruptura de 2 milímetros, afinal já era de dois centímetros – afinal perdeu Rui Costa, perdemos nós os que gostamos de futebol, perdeu o Benfica. E mais o “caso” Luisão, que está há quase dois meses no “está apto/não está apto”. E mais o “caso” Miccoli, e mais o “caso” Mantorras (mas com outro departamento médico).
Ora bem, há muita coisa a explicar, porque hoje um bom e eficaz departamento médico é uma parte importante para o sucesso de uma época desportiva. Porque é que no Benfica as lesões são sempre objecto de processos demorados e problemáticos, onde tudo parece tratado com amadorismo e sem qualquer rigor?
Uma instituição como o Benfica também não pode evidenciar um tão flagrante desleixo na sua política de comunicação. Transparência, rigor, antecipação, são elementos fundamentais na sociedade mediática em que vivemos.
Deixar vogar, ao sabor das especulações e dos rumores, matéria informativa sobre o estado clínico dos jogadores do Benfica (ou sobre quaisquer outras matérias) é meio caminho andado para o insucesso.
O que se pede ao Presidente Luís Filipe Vieira, cujos méritos na condução do clube, no trabalho de equilíbrio das contas e de restauro da sua imagem, são inquestionáveis, é que, agora, resolva de uma vez por todas estas trapalhadas. E, no que à parte da comunicação diz respeito, basta ver o que o nóvel Hospital da Luz fez no caso da hospitalização de Eusébio. Copiar os bons exemplos não custa dinheiro.