Benfica - 0; Académica - 3 (26ª Jornada) - Domingos Paciência, que desta vez não olhou para o chão, teve o que queria, um jogo limpinho. Parabéns à Briosa, a quem me sinto afectivamente ligado. Chalana, que foi igual a si próprio no “flash-interview”, não teve o que queria – raça, querer, classe, amor à camisola.
Disse o “pequeno genial”, no final do jogo, com semblante de velório, que também ele teve dias maus como jogadores. É certo, mas o que nunca teve foi falta de classe, de raça, de querer, de amor à camisola.
Quantos daqueles jogadores do Benfica que saíram vergados a uma derrota humilhante, sentiu a mesma vergonha que se pressentiu no rosto e nas palavras de Chalana? Sem querer beliscar a dignidade de ninguém, atrevo-me a dizer que poucos, muito poucos.
O que há agora a fazer é muito simples. Uma “limpeza de balneário”, como se dizia há alguns anos atrás. Jogadores sem classe, desmotivados, que se arrastam, estão identificados. Não há que ter complacência.
Aqui há uns anos atrás, o saudoso Jorge Perestrelo, relatando um jogo de apresentação do Real Madrid aos seus adeptos, contra o Benfica, que resolveu levar ao Santiago Bernabéu um equipa reservista, sentiu-se humilhado pela goleada que os meregues estavam a infringir aos encarnados.
Bem ao seu estilo, gritou essa indignação e essa revolta. Parece que estou a ouvi-lo: "A partir de agora recuso-me a dizer os nomes dos jogadores que envergam a camisola vermelha. Não merecem que eu refira os seus nomes". A partir dali, o relato foi, 6 passa para 3, 3 coloca a bola em 8. Perestrelo mostrou assim o seu sentimento.
Do presidente do Benfica quero, por isso, ouvir: “Isto não se volta a repetir”. Porque “isto” não se pode voltar a repetir, mesmo. Seja como for, o que se passou esta noite vai ter consequências, tem de ter consequências. É o fim de um ciclo que se anuncia.
Chalana é o menos culpado. Que culpa tem ele de não ter um defesa direito de classe para colocar no lugar de Nélson, um jogador sofrível? Que culpa tem ele de Katsouranis estar a jogar por favor? Que culpa tem ele de Nuno Gomes estar a anos-luz do jogador que, a espaços, chegou a ser? Que culpa tem ele de Makukula ser um “bluff”? Que culpa tem ele de Di Maria continuar a ser o brinca-na-areia que chegou à Luz? Que culpa tem ele de Rui Costa estar a viver os meses mais difíceis da sua extraordinária vida desportiva? Que culpa tem ele de ser o homem da casa, o porta-estandarte da mística, aquele a quem se pede o que não se pede a ninguém, porque ele, o Fernando Chalana, tem amor à camisola?
Ele não tem culpa, nós também não. Os actuais jogadores do Benfica não se dão ao respeito. O respeito que devem aos milhões de adeptos espalhados pelo Mundo. Olho para Fernando Chalana e vêm-me à memória as milhares de horas de alegria que ele me ofereceu. Olho para aqueles jogadores do Benfica e não digo o que sinto.
O que podem dizer agora aqueles homens que mancharam uma camisola gloriosa aos milhões de adeptos? O que podem dizer a Chalana, a Shéu, a Rui Águas, a João Alves, a Néné, a Pietra, que com eles convivem todos os dias? Eu sei o que diria Chalana, que só não o disse na conferência de Imprensa por pudor: “Pedimos desculpa”.
É isso: “Pedimos desculpa”.
Foto: Paulo Duarte (AP)
Post-Scriptum: Óscar Cardozo, por quem tenho simpatia, saiu do campo pelo seu próprio pé a caminho do balneário, faltavam 5 minutos para o fim da partida. Não sei o que tinha Cardozo, mas lesionado ou não, o paraguaio devia ter ficado em campo, mesmo em sofrimento, porque a equipa ficou a jogar com 10 por já ter esgotado as substituições. É também assim que se perdem jogos e campeonatos. E é também esta atitude que é preciso mudar.