O Rui Costa? - perguntou o meu amigo benfiquista de Moscovo. Lá tive de lhe explicar que foi porque disse umas palavras, como "vergonha", ao árbitro do Benfica - Marítimo. O frio da capital russa não lhe congelou, porém, o raciocínio.
O quê? Mas o futebol português não é uma vergonha todos os dias? - disparou. Pois é, respondi-lhe, mas só alguns é que se sentem envergonhados. O presidente do Estrela da Amadora, por exemplo, não paga ordenados aos jogadores desde o início da época, achas que ele tem vergonha?
Um presidente de clube de futebol recebe árbitro em casa na véspera de um jogo e os tribunais acham normal, achas que alguém perdeu a vergonha?
Um treinador de um clube dito grande insulta os árbitros jornada sim - jornada não, e não vi ninguém sentir-se envergonhado. Porquê? Porque no futebol português quase todos já perderam a vergonha.
Ora, o Rui Costa ao reclamar "tenham vergonha", está a pedir algo que já se perdeu há muito, logo impossível de recuperar com celeridade. E os senhores que mandam no futebol português não gostam que lhes caia a máscara.
O problema agudiza-se tratando-se do Rui Costa. Com uma folha de serviços limpa, quer como jogador do Benfica, quer como jogador da Selecção, quer como dirigente, o Rui é uma espécie de "alien" do futebol português.
Tivesse ele a candura de outros dirigentes como João Bartolomeu, António Salvador, Valentim Loureiro, Mesquita Machado, Pinto da Costa, João Loureiro, António Oliveira, que nunca pediram a ninguém para ter vergonha (coisa que, presume-se, eles também não têm para dar), e outra avaliação teria.
Assim, os ouvidos (e os olhos) sensíveis dos insignes responsáveis da CD da Liga não aguentaram este desplante de Rui Costa. Ele que vá pedir "vergonha" para outro lado, reagiram. Para a Sibéria, por exemplo...