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Começo por dizer que admiro Scolari, o seu poder de comunicação, o seu jeito nervoso de viver o jogo. Gosto de Felipão. Mas o frustrante empate de sábado à noite na Luz (2-2) frente à Polónia, mais do que deixar a Selecção no fio da navalha do apuramento para o Euro 2008, revela um problema mais profundo e mais estrutural.
Principal problema – falta identidade à nossa Selecção. O “caso” Pepe, após o “caso” Deco, é a face visível dessa falta de identidade. Na Luz, sábado à noite, a Selecção não conseguiu levar mais de 50 mil ao estádio, num jogo decisivo do apuramento, contra a primeira classificada do grupo. Porquê? Porque hoje, na Federação, a estratégia em vigor é a do oportunismo, do facilitismo, do deixar andar a ver se pega. Não há uma linha de rumo, e se às vezes a sorte sorri, como no Mundial da Alemanha, a mais das vezes vem ao de cima a regra de ouro do improviso e do acaso.
A naturalização de Pepe, um vulgar jogador brasileiro, assim como já tinha sido a de Deco, hoje um jogador mediano, sem lugar no Barcelona, e a anos-luz da qualidade e da consistência de um, por exemplo, João Moutinho, reflecte essa crise de identidade, que se sente.
Portugal não precisa de jogadores brasileiros naturalizados portugueses para jogarem na Selecção. O oportunismo de ambas as partes é lamentável e chocante. Nem Deco, nem agora Pepe, alguma vez teriam lugar no escrete canarinho. Do lado da Federação, foi fácil convencer a opinião pública portuguesa da necessidade da naturalização de Deco, quando este exibia uma forma transcendente e o Mundial estava à porta. Como agora é fácil defender a naturalização de Pepe e a sua chamada à Selecção, quando o jogador pertence aos quadros do Real Madrid, e quando Portugal se debate com naturais lacunas no centro da defesa.
Difícil era apostar na formação, o que devia ser a mensagem a passar pelo Presidente da Federação tanto para o interior do organismo máximo do futebol português, como para o interior dos clubes. Mas rende menos dividendos a curto prazo não é verdade Dr. Gilberto Madaíl?
E agora, quando Portugal aparece frente à Polónia, em casa, a necessitar de vencer, sem um genuíno ponta-de-lança português, vai acelerar-se o processo de naturalização de Liedson?
E não vale a pena puxar do argumento de que em outras modalidades acontece o mesmo. Por um lado, o campo de recrutamento é bastante menor, por outro, uma asneira não justifica outra asneira.
Por último, também é revelador de ignorância e má-fé lembrar o caso da Selecção francesa. Que eu saiba, nenhum jogador se naturalizou francês com o único objectivo de jogar na Selecção da França. Pensar o contrário é não saber que a França é, provavelmente, o país onde mais de aposta e investe na formação. Agora só se espera que amanhã contra a Sérvia, a Selecção possa ultrapassar momentaneamente esta crise de identidade.
Obs: Não posso deixar de estar mais de acordo com Rui Santos, que, domingo à noite na SIC Notícias, no seu “Tempo Extra”, foi justamente crítico da actuação da Federação Portuguesa de Futebol e do seu líder, Gilberto Madaíl.