Continuamos a cometer os mesmos erros. Nada aprendemos com o passado. Como é possível que nos dias que antecederam um jogo desta importância e desta intensidade, o futebol do Benfica tenha vivido em constante reboliço? É Luís Garcia que está quase, é Palácio que é a prioridade, afinal quem vem é Suazo, chega e é logo convocado, Nélson vai embora, Nuno Gomes é capaz de vir a ser transferido, Di Maria vem de Pequim mas deve entrar de início, Reyes e Di Maria para ganhar ao FCP, etc.etc. etc. Quem consegue trabalhar em tranquilidade com todo este turbilhão?
Mas há mais. O discurso de Quique Flores é incompreensível. No final do jogo com o Rio Ave disse que não havia lugar para preocupações. Vê-se… Depois, diz que os problemas físicos no jogo com o FCP são devidos ao facto de agora se trabalhar mais que no passado – uma deselegância escusada para com Camacho. No final, diz que lhe custou tirar Cardozo – então, porque o fez?
Mais ainda. Os conceitos tácticos de Quique também são incompreensíveis. Em Vila do Conde, com a saída de Carlos Martins faz entrar o jovem e inexperiente Felipe Bastos, que nem é convocado contra o FCP. Continua a colocar Katsouranis como central (quanto a mim mal), quando tem um central (aliás, dois, com David Luiz) como Sidney, contratado esta época. Continua a colocar Aimar como segundo ponta-de-lança, ao ponto de ser o pequeno argentino a aparecer a cabecear na grande área as (poucas) bolas centradas por Di Maria, Reyes ou Carlos Martins. E podíamos ir por aí fora…
Mas o mais importante que tenho para dizer guardo-o para o fim. Está explicado porque é que o Benfica, antes de Quique, tinha como principais opções para substituir Camacho, Carlos Queiroz e Sven-Goran Eriksson. Não está em causa a capacidade, a competência e a inteligência de Quique Flores. O que é preciso perceber é que o futebol português exige um “know-how” muito específico, que Quique (ainda) não tem.
Por exemplo: há equipas que durante a semana “treinam” alguns jogadores para falar com o árbitro, porque conhecem as suas características; há jogadores que “treinam” determinados truques para condicionar determinados adversários. Isto passa-se há muitos anos no futebol português. Eu sei que em Espanha, em Itália ou em Inglaterra isto seria impensável, mas estamos em Portugal, no futebol português, e temos de saber jogar com estas “regras”.
Por tudo isto, percebi muito bem porque é que Rui Costa “exigiu” a presença de Diamantino e de Chalana na equipa técnica. Porque estas duas glórias do Benfica podiam fazer entender melhor a Quique Flores estas questões, abreviando o seu tempo de aprendizagem. Por isso, estranhei que Quique tivesse “dispensado” este acompanhamento. Está agora a pagar por isso.
Como estranho que, pelos vistos, os relatórios feitos por Fernando Chalana sobre o Rio Ave, que ele observou várias vezes, tenham sido pura e simplesmente ignorados. Ou, senão o foram, parece…
Vamos acreditar que tudo vai melhorar. Só pode melhorar. Quique tem de corrigir depressa alguns equívocos e começar a apoiar-se mais em Diamantino e Chalana, que têm um conhecimento profundo do futebol português. Não bastam as conversas com Pako Ayesteran, um preparador físico conceituado mas que tem de explicar o desastre físico da equipa do Benfica no jogo contra o FC Porto.
Com 15 dias de trabalho pela frente, até ao próximo jogo oficial, em Paços de Ferreira, Quique tem tempo para colocar as peças em ordem e arrepiar algum caminho. Eu acredito que o treinador espanhol, tarimbado num futebol de alta exigência competitiva e mediática (por isso estranho o seu discurso errático), vai levar o Benfica ao lugar que merece – campeão.
Post-Scriptum: Jorge Sousa fez um trabalho habilidoso. O árbitro do Porto, só para falar das situações mais evidentes, perdoou a expulsão a Cristian Rodriguez – o uruguaio não teve direito a sanção disciplinar quando entrou por detrás em Maxi, e minutos depois leva amarelo (que seria o segundo) por protestar uma decisão do árbitro; ficou por assinalar livre indirecto dentro da grande área do FC Porto depois de entrada de pé em riste de Rolando sobre Di Maria. Mas houve mais “pequenos” pormenores a favorecer o FC Porto.
Ficha do jogo
SL Benfica – 1; FC Porto – 1
Estádio da Luz (Lisboa)
Árbitro: Jorge Sousa (AF Porto)
Golo: Cardozo (55 min.)
Disciplina: Katsouranis (amarelo aos 10 e segundo amarelo aos 58); Cardozo (amarelo aos 50); Nuno Gomes (amarelo aos 83)
Benfica - Quim; Maxi Pereira; Luisão; Katsouranis; Léo (Ruben Amorim, aos 68 min.); Yebda; Carlos Martins; Reyes; Di Maria; Aimar (Nuno Gomes, aos 50 min.) e Cardozo (Sidney, aos 65 min.).