Manuel Ramos foi uma figura incontornável do “Jornal de Notícias”. Durante anos a fio foi Director e Chefe de Redacção. Trabalhei com ele pouco tempo, alguns meses apenas. Deu para perceber que estava ali um profissional inteiro, um jornalista vertical, imune a pressões, a “fretes”, a cumplicidades espúrias, a promiscuidades ínvias.
Era um homem apaixonado, pela sua profissão, pelo seu jornal, pelo Porto. Era intransigente, implacável, com o rigor, a verdade. Mas era um homem bom. Um dia, já lá vão 15 anos, recebi uma carta sua, que me deixou com um misto de orgulho e de receio.
O que me queria dizer Manuel Ramos? Que asneira tinha eu cometido? Que “gaffe” imperdoável ele tinha descoberto nalguns dos meus artigos, algo que nenhum superior hierárquico tinha descoberto na altura da edição?
Abri a carta, a medo. Em curtas mas enérgicas linhas, Manuel Ramos elogiava um texto meu sobre os meandros da PIDE na cidade do Porto, gostava do estilo, mas apontava aqui e ali algumas incorrecções históricas.
Guardei a carta como quem guarda algo de precioso. Lembrei-me dela ontem, ao ler o JN, como faço todos os dias, (como o fazia todos os dias Manuel Ramos, com devoção), e deparei, estupefacto, com a notícia da sua morte. A memória, essa, ninguém a apaga. Lá, onde estiver, (sei que ainda e sempre a ler o JN), mando-lhe um abraço de gratidão.
Pedro Fonseca
Ex-jornalista do JN
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