sexta-feira, 2 de março de 2007

Eterno Número 1


Bento, Artur, Humberto, Messias (ou Malta da Silva) e Pietra (ou Alberto) ; Shéu, Toni, Vítor Martins e Chalana ; Néné e Vítor Baptista (ou Jordão). Jovem, adolescente, eram estes os meus ídolos, e mais alguns poucos. Eram e são. Sinto saudades de os ver evoluir num qualquer relvado da província ou na Catedral da Luz. Naqueles tempos do futebol ao domingo à tarde, bancadas cheias até à vedação e nós de pé, sem cadeira nem lugar marcado para nos sentarmos – era futebol, não era cinema -, sem apito dourado. Nem sequer sabíamos que havia classificações de árbitros e senhores que classificavam os árbitros, chamados observadores. Naquele tempo não havia quarto árbitro, havia, isso sim, o peão. Como eu tenho saudades do peão…
Dizia eu que tenho saudades de ver jogar aqueles nomes que escrevi no início deste texto. Fazem-me falta. O Artur, o Ruço; Humberto, o “grande capitão”; o esguio “colored” (como se dizia na altura) Messias (que é feito de ti?, e de ti, Malta da Silva?, e de ti, Alberto, o dos dois grandes golos pela Selecção à Aústria, no Prater, e à Escócia, na Luz, mesmo nas barbas de Rod Stewart; o ex-Belém Pietra ; Shéu, o pezinhos de lã ; Toni, “a força da Natureza” ; Vítor Martins, “o garoupa” e Chalana, “o pequeno genial” ; Néné, o dos golos “sem sujar os calções” e Vítor Baptista, “o Maior”. Sinto falta de nos ver entrar no relvado, de camisola vermelha, vermelha mesmo e não preta ou alaranjada ou acastanhada ou beje ou amarelada (e fico-me por aqui).
Quando vos encontro a todos juntos por alturas de um dia especial, como foi o de ontem da Gala comemorativa dos 103 anos do Glorioso, verifico que vocês não envelheceram. Vocês nunca vão envelhecer.
E, no entanto, sei que nunca mais vai ser possível reunir-vos, de 1 a 11, Um a Onze, como naquela altura, sem 99 ou 35 ou 44. Falta-me o 1 e o 9. Faltam-nos a todos. O 9, o Vítor Baptista, já se foi há alguns anos. Parece que ainda o estou a ver a receber a bola no peito, lançada por Shéu, numa linda tarde de sol de um Domingo na Luz, contra o Sporting. Rodopiou sobre o tronco, como só ele sabia rodopiar, e disparou uma bomba que só parou no fundo das redes verdes-brancas. 1-0. Toni correu eufórico para os abraços, mais Humberto, mais Shéu. As bancadas em ebulição ficaram, de repente atónitas, Vítor Baptista não festejava, rastejava no relvado à procura de um brinco que se soltou. Morreu como viveu, no fio da navalha.
E hoje faltaste-me tu, Bento. Meu eterno Nº 1. Tu que, como Vítor Baptista, também tinhas tanto de génio como de louco. Tu que um dia, num daqueles momentos de loucura, agrediste o Manuel Fernandes, num Sporting-Benfica, és expulso, é penalty, é golo dos leões. Estávamos a ganhar 1-0. Perdemos 3-1, e o campeonato. Tu, meu querido Bento, que tantos e tantos campeonatos nos destes, tantos e tantos penalties defendeste, como aquele nas Antas, estava 0-0 e 0-0 ficou porque foste buscar o tiro de Gomes e deste-nos mais um título. Eu, que estava lá, exultei e agradeço-te a ti aquela imensa alegria.
Tu que não sentias a dor. Vi-te, em Famalicão, no final da década de 70, a sair aos pés de um avançado e, momentos depois, a sair de campo de maca. No balneário coseram-te a cabeça, a frio, com 30 pontos.
Vi-te a segurar um empate inesquecível em Glasgow, pela Selecção Nacional contra a Escócia, naquela que, para mim, terá sido a mais espantosa exibição a que assisti de um guarda-redes.
Vi-te noutra tarde memorável, em Marselha, no Europeu de 84, a fazer defesas espantosas aos remates de Platini, Tigana, Rocheteau, Giresse. Abandonaste o futebol como um anti-herói, com discrição. Nunca te armaste em comentador, nem nunca te puseste em bicos de pés, quando, discretamente como só os grandes Homens sabem ser, abraçaste esporadicamente a carreira de treinador.
E agora Manuel Bento? Como foste capaz de partir, assim, de repente. E agora, quando eu tiver de convocar os meus heróis? De 1 a 11. Quem é que ponho com o 1 e o 9? Eternamente, Manuel Bento e Vítor Baptista.

6 comentários:

  1. Na minha adolescência, o guarda-redes Bento dava-me tristezas e algumas alegrias. Tristezas quando vestia a camisola do Benfica e defendia tudo ou quase tudo nos jogos com o Sporting e algumas alegrias quando defendia a baliza da selecção portuguesa, apesar de achar que Vítor Damas é que deveria ser o eleito. De qualquer modo, não posso esquecer aquela excelente campanha da selecção nacional que levou Portugal ao Europeu-84, que se realizou em França. Portugal conseguiu o terceiro lugar e poderia ter ido mais além, também à custa de uma portentosa exibição de Bento naquele célebre França-Portugal, que os gauleses venceram por 3-2, após 120 minutos de futebol, com os golos lusitanos a serem marcados por Rui Jordão.
    Na manhã desta quinta-feira, ficámos a saber que Bento, aos 58 anos, não foi capaz de defender o remate fatal que terá sido desferido pelo seu coração. Para um sportinguista habituado a respeitar os seus adversários, foi uma notícia triste. Muito triste. Bento foi um dos últimos grandes guarda-redes portugueses. Marcou uma geração e um modo de estar no futebol, nos anos setenta e oitenta do século XX. Bento confunde-se com o próprio Benfica, assim como Vítor Damas se confundia com o Sporting e Vítor Baía se confunde com o FC Porto. Nós olhamos para eles e vemos os seus clubes. O que hoje raramente acontece com qualquer jogador.

    ResponderEliminar
  2. É estranha a morte de Bento após um jantar do Benfica? Gripe das aves? Este assunto merecia ser investigado.

    ResponderEliminar
  3. "Sinto saudades de os ver evoluir num qualquer relvado da província ou na Catedral da Luz."

    Relvado da provincia ?
    o sr inferno da luz,o senhor é de onde ?
    Nova Iorque,Miami,Londres ? Paris,Pequim ? Moscovo ?
    Ou da enorme metrópole de Santo Tirso ?
    è essa arrogancia benfiquista,de quem nao é de Lisboa é provinciano que torna o SLB no mais execrável dos clubes portugueses !

    ResponderEliminar
  4. Grande texto, Inferno da Luz! Só uma correcção: quando o Bento resolve fazer a "festinha" ao Manuel Fernandes, estava 1-1. Se quiseres recordar esse lance, o penalty das Antas e as defesas contra a França, deixo-te os respectivos links.

    ResponderEliminar
  5. ó leao feroz, eu sei que Santo Tirso vos traz alguns amargos de boca. lembra-te da eliminação dos 5 violinos aos pés do Tirsense para a taça ou ainda andavas de cueiros.

    ResponderEliminar
  6. ó inferno da luz
    podes falar de contente.
    ja não te lembras do Gondomar ?
    ou do Varzim ?
    preferes que te recorde os 7-1 de Alvalade ?
    ou dos nossos amigos do Celta de Vigo ?

    ResponderEliminar

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...