Habituei-me desde muito cedo a ler “A Bola”. Era para muitos “A Bíblia”, para outros, poucos, “o jornal da Travessa da Queimada”. Na altura, trissemanário, publicado às 2ª, 5ª e sábados, a “A Bola” chegava ao início da tarde à província, transportada em velhas camionetas de carreira, e largada no quiosque da esquina em maços amarrados por cordas de pescador.
Com páginas “broadsheet” (o chamado lençol), de um grafismo antiquado, em que as reportagens eram distribuídas por várias páginas, o jornal tinha alma, transpirava orgulho, qualidade, credibilidade e rigor.
E tinha nomes grandes, únicos, do nosso jornalismo. E que nomes?! Vítor Santos, o Chefe, Carlos Pinhão, Carlos Miranda, Aurélio Márcio, Alfredo Farinha, Homero Serpa, Santos Neves.
Rui Santos, ex-jornalista de “A Bola”, colaborador do “Correio da Manhã” e da SIC Notícias, carrega o apelido que seu tio lhe legou e, com ele, tudo o que Vítor Santos foi como jornalista: integridade, verdade, rigor, qualidade.
No seu “Tempo Extra”, de domingo na SIC Notícias, Rui Santos não fez jus ao apelido que usa. Na sua análise ao jogo Benfica-Naval, deixou a ideia de que o golo apontado por Miccoli tinha ocorrido em circunstâncias estranhas. Para isso, recorreu às palavras de Fernando Mira, o treinador da Naval, que afirmou que ninguém marca um golo de costas, e deixou no ar a suspeição sobre o defesa e capitão da Naval, Fernando, que na altura cobria o jogador italiano do Benfica. “Na Figueira e na Naval tem-se passado coisas estranhas”, atirou Rui Santos, falando de empresários e de telefonemas, sem concretizar uma coisa ou outra.
Um jornalista com a exposição mediática de Rui Santos tem de ter mais cuidado com o que diz. E tem de ter a certeza do que diz. Insinuações deixadas no ar, meias frases, palavras lançadas ao vento, nada disso é jornalismo. Pelo menos aquele a que Vítor Santos sempre nos habituou.
Reconhecemos a Rui Santos coragem em muito do que diz e do que escreve – nomeadamente no que diz respeito à necessidade de regeneração do futebol português, que, também aqui, neste blogue, pugnamos. Mas isso só será uma evidência quando regressarem os princípios pelos quais Cândido de Oliveira, Vítor Santos, Carlos Pinhão, Aurélio Márcio e tantos outros deram toda a sua vida de jornalistas.
E entre esses princípios está uma máxima do jornalismo, postada no cabeçalho do “The New York Times”: “All the news that fit to print” (“Só notícias que merecem ser publicadas”). Só factos, factos, factos, meu caro Rui Santos.
Sim, o Rui Santos referiu isso e referiu com toda a razão... a atitude do jogador da Naval naquele lance é,no mínimo, estranha...foi apenas isso que o Rui disse...
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