terça-feira, 16 de setembro de 2008

Premonitório

O Canal Benfica, a cenoura e o chicote
Pedro Fonseca em 15/09/08


Sem futebol, a semana que ontem acabou manteve o Benfica nas bocas do Mundo. Inevitabilidades de um clube que tem uma dimensão que ultrapassa as fronteiras pátrias e de ser o maior clube do Mundo.
Uma notícia boa e outra má dominaram os últimos dias e fizeram as manchetes: o Canal Benfica vai transmitir em exclusivo o jogo com o Nápoles, na Luz, para a segunda-mão da Taça UEFA, e Óscar Cardozo foi impedido de treinar por ordem de Quique Flores, por falta de empenho no treino, segundo uma versão, ou por não acatar ordens do treinador-adjunto, segundo outra versão.
Comecemos pela notícia positiva. O Canal Benfica é uma lufada de ar fresco na realidade do futebol em Portugal. É uma autêntica revolução no audiovisual futebolístico e, mais uma vez, o Benfica é pioneiro, está na vanguarda, colocando-se, assim, ao lado de grandes colossos do futebol mundial que também têm o seu próprio canal, como o Real Madrid e o Barcelona.
Luís Filipe Vieira é o artífice deste projecto, que idealizou, construiu e fez agora arrancar. O que me surpreende é que aqueles que passaram anos a criticar a dependência dos clubes da Olivedesportos, clubes que venderam por tuta e meia os direitos de transmissão televisiva e que tudo permitiram, como marcar dia, local e horário de jogos, ao arrepio da Liga e da Federação, fiquem agora calados ao ver o Benfica libertar-se desse autêntico colete de forças.
Mas, provavelmente, só o Benfica seria capaz de dar este passo, que significa uma emancipação corajosa com grande impacto no futuro do clube. A “marca” Benfica, que nos últimos anos, com a gestão de Luís Filipe Vieira, reforçou a sua credibilidade, e o sucesso do “kit novo sócio”, possibilitando um aumento exponencial do número de sócios, colocando o Benfica na liderança mundial, são os dois pilares fundamentais para o sucesso do Canal. Ou seja, primeiro arrumou-se a casa, construiu-se os alicerces e agora sim há que arrancar com o projecto. É assim com o canal de televisão, é assim também com a equipa de futebol, em busca do título.
Esta caminhada para o título dispensava bem o “caso” que se passou no fim de semana com Óscar Cardozo. O paraguaio foi suspenso dos treinos por Quique Flores: falta de empenhamento ou desrespeito a uma ordem do treinador-adjunto? As versões divergem. Seja como for, se é bom saber que a disciplina é uma realidade no Benfica, por outro lado, é mau saber que um dos mais importantes activos desportivos e financeiros do clube está sob a alçada disciplinar.
Agora há que tudo fazer para não “perder” Cardozo, e Rui Costa terá um papel fundamental a desempenhar. Lembremo-nos de Katsouranis e do despique com Luisão, na época passada, cujas sequelas, se calhar, ainda não foram sanadas e estão na origem da vontade de sair do grego.
Rui Costa tem de ser muito hábil: não pode retirar a autoridade a Quique, o que seria trágico, mas tem de fazer com que Cardozo não se passe a sentir desconfortável no seio do grupo de trabalho.
Podia Quique ter actuado de outra maneira? Podia, até porque Cardozo tem atenuantes: fez longas viagens ao serviço da selecção do Paraguai e acusa algum desgaste psicológico devido ao fraco desempenho nos últimos jogos com a camisola do seu país. Uma conversa dura, como Quique teve com Katsouranis, depois do jogo Benfica – FC Porto; uma sessão de “trabalhos forçados”, obrigando o jogador a treinar para além do tempo normal da sessão; ou colocá-lo a treinar à parte do grupo de trabalho – três outras opções que seriam, na minha opinião, mais eficazes. Disciplina é uma coisa, chicote é outra. Mas o futuro o dirá.
publicado in "Novo Benfica" (antes do anúncio de Rui Costa, colocando um ponto final no "caso" Cardozo)

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