terça-feira, 3 de junho de 2008

A teia

Portugal é o país mais esquizofrénico que conheço. E conheço muito bem, alguns. Em terras da Suiça, onde vai ser disputado 50% do Euro 2008, a nossa Selecção é recebida numa euforia quase demencial por milhares de emigrantes. Bravos “portugas” que labutam lá fora, mas que continuam agarrados ao chão pátrio: “Adeus, até ao meu regresso”.
Cá dentro, o futebol é “jogado” em acórdãos, sentenças, recursos, normas e requisitos, e nulidades supervenientes. Nulidades supervenientes? No ecrã, doutos e vulgares artífices das leis, vulgo juristas, discutem, debatem, analisam, as profundezas mais profundas das intrincadas matérias de ordem legal, jurisdicional, administrativa ou outra.
O Cristiano Ronaldo é obscurecido pelo Prof. tal e coisa, doutor em leis por Coimbra, de preferência. O Scolari, coitado, tem de dividir o palco com o presidente do CJ, do CD, da FPF, com o assessor da UEFA, o contínuo da FIFA, o porteiro da CBF.
As capas dos jornais portugueses são divididas, nos dias que correm, entre os jogadores de Portugal e os senhores das leis.
A 24 horas de se conhecer a decisão da UEFA quanto à participação do FC Porto na Liga dos Campeões, o estado do futebol português – e do país – é este: um imenso bordel, onde cada opinião, cada palavra, cada espirro, merece o relevo que melhor serve a cada lado da barricada.
Um futebol preso numa teia de interesses, de jogadas subterrâneas, de jogos de poder e conveniência. Espera-se, amanhã, que surja um sinal de ar limpo, de transparência, de regresso à verdadeira essência do desporto, do futebol: a verdade, nada mais do que a verdade.
É um país e um futebol barricado, à espera de uma implosão qualquer. Deseja-se que não haja “fogo amigo” e que os estilhaços não atinjam civis inocentes. Danos colaterais? Quem sair por último que apague a luz…

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