terça-feira, 25 de março de 2008

A mística, segundo Chalana

A célebre Selecção Nacional que conseguiu o apuramento para o Europeu de 1984, em França, depois de derrotar a ex-URSS por 1-0 (golo de penálti, de Jordão, depois de falta sobre Chalana), num estádio da Luz repleto. Uma equipa capitaneada pelo saudoso Bento, e onde alinhavam ainda mais 3 benfiquistas: Chalana, José Luís e Carlos Manuel. Numa altura em que o Benfica já começava a perder o "mercado interno".

Fernando Chalana é um dos rostos de apoio à Selecção no Euro 2008, que se vai disputar na Suiça e na Áustria, em Julho. Considero esta escolha uma homenagem a um jogador genial e a um homem discreto mas frontal.
Não sei de quem partiu o convite, mas seja quem for, está de parabéns pela escolha. Poucos são os que representam tão dignamente aquela que foi a mais estraordinária epopeia do futebol português, após o Mundial de 66.
O Europeu (sem abreviação) de 1984, em França, relançou no Mundo a fantástica “fábrica de talentos” que é Portugal, mesmo sem o recurso aos jogadores oriundos das antigas colónias.
Depois de 66, Portugal tinha entrado num estranho ocaso a nível de Selecção, apesar de continuar a apresentar equipas recheadas de jogadores de eleição: Humberto, Alves, Néné, Vítor Baptista, Oliveira, Manuel Fernandes, Toni, Shéu, entre muitos outros.
A década de 70 foi madrasta. Até que chegou 84, o Europeu de Platini mas que Chalana e os seus “compagnons de route” iam estrangando, depois daquela memorável e dramática meia-final de Marselha, no Vélodrome.
Chalana foi a figura maior desse Europeu, comparável a Michel Platini. Depois, o seu percurso é conhecido. Como aconteceu com Rui Costa e com João Vieira Pinto, com Chalana, os mais fantásticos jogadores portugueses dos últimos 20/25 anos, o “pequeno genial” foi para um clube pequeno demais para a sua dimensão de jogador, o Bordéus. A vida é assim…
Sempre discreto, sempre digno, Fernando Chalana regressou ao Benfica para servir o clube, nunca para se servir do clube. Sem nunca se por em bicos de pés, volta a ocupar as primeiras páginas dos jornais e é agora o rosto publicitário da Selecção.
Mais do que o talento gigante como jogador, mais do que a humildade dos grandes homens, o que há a realçar é o discurso de Fernando Chalana. Um discurso de quem parece que o está a preparar há anos. Palavras que parecem de quem já assimilou tudo sobre o efeito comunicacional da mensagem.
Mas que são apenas palavras de um homem genuíno, brilhante, inteligente como poucos. Chalana fala como jogava: sem rodopiar sobre si próprio e voltar para trás, antes sempre em frente, fintando os adversários, directo à área e ao golo.
No sábado, no “Correio da manhã”, diz esta coisa extraordinária para os dias que correm: “Quando perdíamos ou empatávamos, nem saíamos de casa. Empatar era como perder. Tínhamos vergonha”.
Hoje, em “A Bola”, que mostra uma sequência notável de fotografias, Chalana diz: “Queria ter 11 jogadores do Benfica na Selecção, como em 66”. Peguem nestas duas entrevistas e colem-nas nas paredes do balneário, na Luz e no Seixal. Querem saber o que é a mística? Falem com Chalana…

3 comentários:

  1. "O Europeu (sem abreviação) de 1984, em França, relançou no Mundo a fantástica “fábrica de talentos” que é Portugal, mesmo sem o recurso aos jogadores oriundos das antigas colónias."

    Caro Pedro, esta afirmação não é 100% correcta.

    Uma das principais figuras da selecção era Rui Jordão, jogador com dupla-nacionalidade (Portuguesa e Angolanda), nascido em Benguela e que só chegou a Portugal aos 19 anos.

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  2. Pois, o Rui Jordão... É verdade vermehovsky, mas quando se fala de jogadores oriundos das ex-colónias, referimo-nos sempre antes do 25 de Abril. Após a Revolução, deixaram de ser antigas colónias e passaram a ser países independentes. um abraço.

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  3. Sim,

    Mas o Rui Jordão chegou a Portugal como vindo das colónias (em 70 ou 71) e como Português.

    Nunca jogou como atleta naturalizado, por isso tem o mesmo estatuto de Coluna ou Eusébio.

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